O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

O Intermitente
(So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

quarta-feira, fevereiro 19, 2003

A propósto da insólita proposta de Pedro Santana Lopes de convocar eleições antecipadas em Lisboa, num dos seus habituais ataques de populismo e incapacidade em aceitar os resultados quando lhe são desfavoráveis apetecia-me escrever um comentário pungente e mordaz. Infelizmente ou, felizmente porque ele escreve bem melhor que eu e tem bastante mais visibilidade, Fernando Madrinha antecipou-se-me. Vou ,de qualquer forma, transcrevê-lo porque é daqueles textos que me apetece guardar, num sitio seguro, para mais tarde recordar.

"Santana e a arte da fuga

Quem viva no concelho de Lisboa ou, pelo menos, frequente a cidade desde que vieram as primeiras chuvas, já se familiarizou com os buracos e as lombas, com o pavimento irregular em muitas ruas e avenidas. Já se resignou ao inferno do trânsito e ao estacionamento selvagem. Já se conformou com a degradação acelerada da paisagem urbana onde pontificam, em zonas centrais da cidade, quarteirões inteiros de prédios deliberadamente condenados a servirem de pasto a uma especulação imobiliária criminosa e voraz.

Quem tenha dado alguma atenção à campanha eleitoral do actual presidente da Câmara, Pedro Santana Lopes, já se esqueceu das alardeadas iniciativas para o repovoamento da Baixa e das áreas adjacentes, do jardim no Arco do Cego e de outras promessas pontuais aos lisboetas de diversos bairros, assim como do novo conceito de cidade que havia de dar prioridade às pessoas em desfavor do automóvel.

Mas quem passe pelo Marquês de Pombal e vir os cartazes anunciando as futuras obras do futuro túnel do Marquês - uma iniciativa de mérito duvidoso, porque facilita a entrada na cidade e na aparência contradiz a intenção declarada com o encerramento do Bairro Alto à circulação - dirá que a campanha eleitoral continua, mais de um ano depois das eleições. O «show-off» do casino ou da grande Filarmónica de Lisboa têm servido para a alimentar. E para camuflar a ausência - ou, pelo menos, a escassez - de medidas que se vejam em infra-estruturas menos grandiosas, mas que contribuam efectivamente para a uma rápida melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e para a humanização da cidade.

Ao fim de pouco mais de um ano de exercício e de fraca obra na capital, o presidente vem falar de eleições, alegando uma mal explicada falta de cooperação da Assembleia Municipal, onde não tem a maioria. Embevecido com as gratificantes sondagens sobre a sua popularidade, sonhando com a Presidência da República nos congressos e mostrando-se aos domingos na televisão, Santana Lopes acredita que a Câmara é só um trampolim para Belém, uma passagem para a outra margem da sua carreira política, independentemente do que faça ou deixe por fazer em Lisboa. Nada melhor do que ir de novo a votos, sob qualquer pretexto, para continuar no centro do palco e reforçar a sua posição.

Uma campanha eleitoral isolada e bem sucedida serviria às mil maravilhas para aumentar a sua projecção pública e o seu peso político não apenas na cidade mas, sobretudo, a nível nacional tenha pesadíssimos custos para um município que ficaria a meio gás durante meses, à espera da maioria absoluta do seu presidente - isso pouco parece importar-lhe. A campanha eleitoral permanente, em que se sente como peixe na água, é o seu modo de respirar na política. A arte da fuga para a frente é um dom e uma vertigem a que não consegue resistir. E a táctica que sempre utiliza quando se sente em dificuldades
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posted by Miguel Noronha 12:37 da tarde

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