O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

O Intermitente
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sexta-feira, abril 25, 2003

Liberdade

Ontem, perguntaram-me por que razão não me iria juntar às habituais comemorações do 25 de Abril. Se não achava que tivesse sido um marco importante na história de Portugal. Se não gostava da liberdade.Eis a minha resposta.

Comecemos pelo enquadramento histórico.

Na sua génese, o "Movimento dos Capitães" não era mais que um movimento corporativo que reinvidicava a manutenção do "status quo" dos oficiais de carreira. A primeira alusão ao derrube do Estado Novo apenas surge nos finais de 1973. Apenas se falava em "conquistar o poder e entrega-lo a uma Junta Militar" para democratizar o país" (ver aqui).
O programa pollítico era assim bastante simples. O programa económico inexistente. Com pouquissimas excepções os a politização dos oficiais era escassa. As suas reinvidicações eram sobretudo profissionais.

Quado eclode o derrube do regime o "Movimento dos Capitães" não assume (como seria de esperar) o poder. Entrega-o a uma Junta Militar cuja composição se não era maioritariamente de direita pelo menos não o era de esquerda e de todo não comunista.
O comunicado da Junta de Salvação Nacional (JSN) consagra a maior parte do texto à dissolução do aparelho repressivo e destituição das cadeias de comando do Estado Novo.

O seu programa político prometia eleições livres, a instituição de liberdades civicas e a discussão do problema colonial.
No programa económico prometia uma política antimonopolista (não necessáriamente nacionalizações), o combate à inflacção (um problema que não existia desde os anos 30 em Portugal) e a melhoria dos níveis de vida dos portugueses.

O programa era, assim, moderado que económica quer politcamente. Não pretendia impor nada para além da Democracia nem alterar o sistema económico. A própria JSN pretendia dissover-se assim que fossem realizadas eleições legislativas.

A radicalização só veio depois. As nacionalizações (estatizações, para ser mais preciso) que destruiram o tecido empresarial português, a reforma agrária selvagem, a lógica revolucionária que se pretendia sobrepor à legitimidade eleitoral são produtos do 28 de Setembro e do 11 de Março.

É natural que as forças que mais beneficiaram da radicalização revolucionária quisessem associar estas ideias ao 25 de Abril. Pretendiam legitima-las através do movimento libertador inicial. Porém, isto representou desvirtuação dos seus ideiais. É espantoso que esta falsa associação perdure nos nossos dias.

Os habituais manifestantes que nos dias 25 dos meses de Abril são aqueles que no pós-revolução pretenderam impor um estado totalitário em Portugal. Eram uma minoria como os resultados eleitorais não se cansaram de demonstrar. Ainda assim pretenderam impor o seu ideal contra tudo e contra todos. Mesmo que isso nos custasse uma guerra civil (que esteve iminente).

São potanto eles, os que saem para a rua e não nós, os que ficamos em casa, que tem menos razões para se congratular com o 25 de Abril. Foi necessário lutar. Mas a Democracia Parlamentar e a economia de mercado triunfaram em Portugal. Ganhou a liberdade. Contra eles. Contra os seus ideiais utópicos e totalitários.

É por isso que não me pretendo associar aos manifestantes de hoje. Imaginando que um qualquer militante do PSD ou CDS pretendia comemorar a liberdade. Levava as suas insignias partidárias e juntava-se à manifestação. O que sucederia? Provavelmente seria enxovalhado (e talvez agredido) pelos sectários que pretendem que o 25 de Abril é a sua festa. Só deles. Tudo o resto são fascistas.


posted by Miguel Noronha 12:52 da tarde

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