quarta-feira, abril 30, 2003
Rosa Amargurada
Não pretendo dissecar o ultimo artigo do Professor Fernando Rosas (FR). O Valete Fratres! já expôs, de forma sucinta mas eficaz, a falácia dos seus argumentos.
Pretendo apenas concentar-me num paragrafo especifico. Diz o lunático Professor:
Acho, aliás, sintomático que se feche a porta à participação estudantil nos órgãos de gestão mas se pretenda abrir a gestão (inclusivamente curricular e científica) da vida das escolas ou institutos superiores ao parecer de "conselhos consultivos", tomados como "representantes da comunidade" e tendencialmente arvorados em tutores da orientação da vida científica das instituições do ensino superior. Acontece que já por aí temos desses "conselhos". Na versão inócua e mais generalizada, pura e simplesmente não funcionam. Mas alguns dos que pretendem que eles funcionem não estão a pensar num desejável acompanhamento e interacção das unidades com a comunidade, mas em lógicas de tutoria empresarial sobre o ensino superior, ou seja, no domínio de tais "conselhos" por grupos de empresas privadas, que tenderiam a subordinar pedagógica e cientificamente algumas unidades de ensino e investigação às suas prioridades e interesses particulares
Quando se discute a problemática do Ensino Superior é usual fazerem-se duas criticas às Universidades.
Uma das criticas é a desadequação entre oferta dos cursos e das necessidades do mercado de trabalho. FR refere-se aliás a ela quando se refere ao "multiplicar cursos, pseudocursos e todo o tipo de actividades absurdas ou estranhas ao seu perfil científico para "captar alunos", ou decair para práticas de facilitismo com vista a tornarem-se "atractivas".
Outra é a falta de ligação entre as Universidade e as empresas ao nível da investigação e desenvolvimento . Refere-se a existência de um excesso de Investigação que não resulta em Desenvolvimento aplicável nas empresas. É normal culpar-se a mentalidade dos empresários portugueses. Esta pode ser parte da explicação mas não a sua totalidade.
A parte da explicação em falta (e que poucas vezes é referida) é que os investigadores universitários na sua grande totalidade preferirem concentrar-se em projectos de investigação que possam apresentar em congressos e granjear-lhes prestigio académico em vez de fazerem parcerias com empresas privadas. Teriam naturalmente de respeitar timings, orçamentos e responder pela adequação do resultado final ao que lhes foi "encomendado".
Seria de esperar que qualquer docente universitário visse nestas (possíveis) parcerias uma oportunidade de "abrir" a Universidde ao mundo "real". Uma ligação entre o fornecedor (a Universidade) e os seus clientes (as empresas). O que o FR teme não é a anunciada perda de peso dos estudantes na Universidade. Os enormes méritos, que todos os criticos da actual proposta não se cansam de lhes atribuir, não evitaram o mau estado das Universidades (que eles próprios reconhecem).
Quando FR lança o anátema sobre a "tutoria empresarial sobre o ensino superior" (algo exagerada dado que apenas se propoem conselhos consultivos) revela aí o seu verdadeiro temor. Este consiste no fim do reinado das "castas, pelos bonzos e caciques" de que ele faz parte e que dominam certas faculdades e que criariam um mundo onde são reis e senhores e em que a sua performance apenas é avaliada pelos seus pares.
posted by Miguel Noronha 2:45 da tarde
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