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segunda-feira, julho 07, 2003

Deflação

Saiu Sábado no DN um artigo do Professor Miguel Gouveia sobre o (falso) problema da deflação. Não sendo a sua opinião diferente da de outros artigos já aqui referido o seu mérito é ser o primeiro artigo não alarmista que sai nos jornais portugueses. Para quem não o leu aqui fica a transcrição.


Na minha opinião, os perigos da deflação têm sido muito exagerados, quer por falta de memória histórica, quer devido à falta de rigor na análise de alguns problemas.

A verdade é que a situação de baixas taxas de inflação em que temos vivido é uma das maiores conquistas dos últimos anos.

Pela primeira vez desde há muito tempo, conseguiu-se alcançar um dos objectivos de qualquer boa política económica: a estabilidade dos preços.

Esta estabilidade tem vantagens enormes no funcionamento eficiente da economia e é uma garantia de equidade, porque é sabido que são sempre os pobres e as pessoas com rendimentos fixos quem mais perde com a inflação.

O mundo terá sempre ciclos económicos. Para que em média haja estabilidade de preços, por vezes eles crescerão um pouco mais e outras vezes até terão de se reduzir.

Nada de especial: níveis baixos de inflação não são muito maus e níveis baixos de deflação também não são.

Há quem argumente que com a deflação os agentes económicos não consumirão de todo porque ficarão a aguardar preços mais baixos no futuro.

Este argumento não pode ser válido: quando há inflação, será que as pessoas consomem tudo hoje e não deixam nada para amanhã?


Claro que não. Trata-se de um argumento que se aplicaria apenas no caso de uma hiperdeflação, tal como o argumento inverso se aplicaria apenas nos casos de uma hiperinflação.

Com a deflação há, antes de tudo, um receio do desconhecido. Ora, a verdade é que a economia europeia já atravessou vária fases de deflação ao longo da sua história, sem que daí viesse grande mal ao mundo.

Por exemplo, uma boa parte do Sec. XIX, na vigência do padrão ouro, foi passado em deflação sem que isso tivesse afectado negativamente o crescimento económico.

Parte do medo da deflação vem da crise de 1929 e parte da situação japonesa actual. Ora, a crise de 1929 viu alguma deflação, mas hoje sabemos que a política monetária seguida na altura foi extraordinariamente restritiva, ao contrário da política furiosamente expansionista seguida hoje.

Por outro lado, a situação japonesa tem a sua raiz num problema que não tem nada a ver com deflação _ o sistema bancário está falido, mas como nunca mais há coragem política de o limpar e distribuir explicitamente os custos da limpeza, tudo o mais na economia japonesa está paralisado à espera que o problema seja resolvido
.

O problema é outro. Quem levanta o medo da deflação quer um Estado grande e o financiamento das despesas públicas pelo imposto inflação [!!!].

Mas essas pessoas estão erradas: o problema não tem a ver com a dimensão do Estado! Hoje sabemos que o imposto inflação é mau, e mesmo quem queira um Estado grande fará melhor em o financiar num contexto de estabilidade de preços.

Deitar fora a conquista da estabilidade de preços com base em superstições sobre a deflação é algo que as gerações futuras nunca nos iriam perdoar

posted by Miguel Noronha 11:51 da manhã

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