quinta-feira, setembro 18, 2003
A "Ameaça" Transgénica pt II
O Faccioso levanta alguma duvidas acerca do meu post em que contestava um artigo no JN de Heloisa Apolónio e de Maria João Guerra.
Diz o António Torres:
No final de toda a argumentação, parece-me que aquilo que importa não será provar-se o perigo dos transgénicos, mas sim, provar-se que são realmente inócuos para o Homem e para a Natureza.
E sobre esta prova, já ouvi cientistas apresentarem as maiores dúvidas.
Nenhuma cultura agrícola é "inócua" para o meio envolvente. Diria até mais: em sistemas abertos somos sempre influenciados por qualquer decisão do(s) nosso(s) vizinho(s).
Nesse ponto porque não questionar também a agricultura "tradicional" que usa pesticidas e a agricultura "biológica" que usa tóxicos naturais para combater as pragas. Ambas as intervenções vão afectar o meio envolvente. Uma das grandes vantagens dos OGM's é a dispensa destes meios de controlo de pragas.
Por outro lado não serão as pragas que "atacam" as colheitas um agente natural? Ao procurarmos extermina-las não estaremos a criar um qualquer desiquilíbrio na natureza? E ao escolhermos plantar uma qualquer espécie num determinado local não estaremos a produzir uma alteração no meio ambiente?
O parágrafo anterior apenas serve para levantar a seguinte questão. Toda a a acção humana, incluindo aquelas que agora são apelidadas de "tradicionais", provoca uma alteração no meio envolvente. Porquê colocar uma tão grande (e alarmista) ênfase nos OGM's?
Parece-me que o argumento do combate à fome é demagógico e nada inteligente.
O problema da fome não tem estado ligado à escassez de alimentos no Mundo mas ao facto de haver muito Mundo sub-desenvolvido.
E sub-desenvolvido, há que dizê-lo, numa grande medida pelo tempo que se tem perdido nas ?experiências socias? de inspiração marxista e pelo que tem custado o contrariar destas ?inspirações? em capitais, esforços e vontades não investidos no desenvolvimento.
Mas neste caso, alguém acredita que um sub-sariano poderia ?comprar? alimentos transgénicos, mesmo sendo baratos ?
Como eu referi no meu post o principal problema da fome no terceiro mundo são as barreiras alfandegárias e os subsídios agrícolas praticados pela UE, EUA e Japão. Estes impedem os primeiros de competir com os segundos numa área em que poderia ter vantagens comparativas para além de nos condenarem a pagar mais caro pelos produtos agricolas.
As ajudas financeiras com que o bloco ocidental tenta combater os problemas do Terceiro Mundo criam aliado à corrupção generalizada (que os subsidios alimentam) não só não resolvem o problema como impedem que estes resolvam o problema da fome e do subdesenvolvimento.
A solução realmente não passa pelos OGM's. A receita é a economia de mercado e o livre comércio.
É claro que os beneficios destes podem (e devem) ser aproveitados tanto pelos agricultores do Primeiro como do Terceiro Mundo.
O argumento de que ?se não se viu mal, quer dizer que não há problema?, parece-me também bastante temerário e mesmo irracional.
Num campo em que depois de entrarmos, e correndo mal as coisas, não fosse possível fugir ao caos, diz a prudência que devemos esperar.
Parece-me lógico pensar desta forma.
A cultura dos OGM's é praticada desde 1986 e ocupa uma área de cerca de 150 milhões de hectares (com um crescimento anual de 5.5 Mh). Até agora não foram dectetadas quasquer problemas, resultantes destas culturas, que para a saúde humana quer para o meio ambiente. Quanto mais tempo teremos de esperar?
Para terminar repito o que já tinha dito no post original: será lícito que 71% dos europeus possam limitar a escolha dos restantes 29%? E, volto a frisar, tenho dúvidas quanto à veracidade destes números...
posted by Miguel Noronha 11:49 da manhã
Comments:
Enviar um comentário