segunda-feira, setembro 22, 2003
Lula, a ONU e a viagem a Cuba
Excerto de um artigo publicado no Diário de las Americas (Miami) por Armando Valladares, escritor e ex-preso político.
Depois de sigilosos debates no seio do governo brasileiro, parece ter sido decidido: em 26 de Setembro o presidente Lula, após participar na assembléia da ONU, fará uma nova viagem à ilha-cárcere, desta vez como Presidente do Brasil. É um passo qualificado no círculo presidencial como «polêmico» e politicamente arriscado, segundo revela a bem informada colunista Dora Kramer, do Jornal do Brasil.
(...) O próprio Lula reconheceu que as peregrinações à meca comunista começaram em 1985. A última delas, em Dezembro de 2001, foi como co-fundador, junto com Fidel Castro, do subversivo Foro de São Paulo (FSP). Lá, na reunião anual do FSP, prestou comovido tributo ao sanguinário ditador, na presença de líderes revolucionários latino-americanos, inclusive narco-guerrilheiros colombianos. «Apesar de que seu rosto já está marcado pelas rugas, Fidel, sua alma continua limpa porque você nunca traiu os interesses de seu povo»; «obrigado, Fidel, porque vocês continuam existindo".
Em fins de Janeiro de 2002, durante o 2º Fórum Social Mundial de Porto Alegre, ante um auditório de milhares de militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), do pró-castrista Movimento dos Sem-Terra (MST) e de comunidades de base seguidoras da teologia da libertação, fez um hábil discurso no qual explicou a seus «companheiros» a necessidade de uma nova tática para tomar o poder no pleito presidencial que se aproximava. (...) Era o «Lula Paz e Amor» que, metamorfoseado, avançaria até chegar à Presidência.
O Presidente Lula dará seu aval a uma das maiores e mais flagrantes contradições _ que não são poucas _ da assembléia geral desse alto organismo: condenar uma vez mais, quase que por unanimidade, o embargo americano, sem dizer uma palavra sequer sobre a causa do problema, que é o implacável embargo interno do regime comunista contra o povo cubano desde mais de 40 anos,
Quem será o Lula que chegará a Cuba? O de Dezembro de 2001, concorde com seu histórico revolucionário? O de Janeiro de 2002, que já estava em rápido processo de metamorfose? Ou uma mescla contraditória de ambos? Me inclino pela terceira opção, própria do zigue-zagueante e contraditório caminhar do Presidente Lula,(...) Se Lula não consegue convencer a alguns de que fez algo efetivo em favor do povo cubano escravizado, ao menos deixará neles uma dúvida benévola... e paralizante. O resultado de sua viagem estará também graduado de uma maneira que favoreça, embora seja discretamente, a continuação da ditadura castrista e/ou a passagem para um «pós-castrismo» controlado por funcionários do actual regime que já estejam sendo preparados para esse fradulento papel. (...) Reitero aqui as considerações finais de um meu artigo anterior:
«Se o Presidente Lula quer desmentir com factos, e não com palavras, que se transformou no maior sustentáculo internacional do regime comunista de Cuba _ com todas as graves responsbilidades que tal implica diante do povo cubano e do generosopovo brasileiro, e sobretudo, diante de Deus _ que adopte medidas diplomáticas categóricas para contribuir para a libertação de centenas e talvez milhares de presos políticos cubanos. Que faça algo eficaz para salvar a vida dos presos políticos Martha Beatriz Roque e Oscar Biscet, que agonizam nos cárceres cubanos, atendendo assim ao apelo que lhe acaba de fazer a Unidad Cubana, de Miami. Que não cruze os braços ante o drama do físico cubano Dr. López Linares, actualmente residente no Brasil, que infrutuosamente lhe escreveu solicitando a sua intervenção para poder viajar a Cuba para conhecer seu filhinho Juan Paolo, de 4 anos de idade. Que não tente pôr panos mornos sobre os «avanços na área social», como a saúde e a educação, que na realidade são implacáveis instrumentos de controle ideológico, político e policial dos infelizes cubanos. Que, enfim, contribua, sem eufemismos, para a urgente liberdade de Cuba».
posted by Miguel Noronha 9:15 da manhã
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