O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

O Intermitente
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quinta-feira, setembro 11, 2003

O 11 de Setembro pt V

Poucos acontecimentos recentes ter-me-ão causado a mesma emoção que o dos ataques de 11/09/01. Um que também não me sai da memória é o massacre do cemitério de Santa Cruz.

Na altura esse acontecimento serviu para transformar Timor-Leste, verdadeiramente, numa causa nacional ainda que por pouco tempo. Realizaram-se algumas vigilias, o governo elaborou um "plano secreto" para lidar com a questão. Depois a "causa" quase morreu na opinião pública só ressuscitando plenamente na altura da realização do referendo que iria decidir a independência do território.

Passadas apenas algumas semanas do massacre de Santa Cruz a minha faculdade realizou um debate sobre Timor. Este foi organizado pelo meu professor de Ciência Política Dr. José Manuel Pureza (JMP). Incluindo os elementos da "mesa" não deviamos estar mais de 10 pessoas na sala e duas sairam pouco depois da sessão se ter iniciado.

No final eu e outro colega comentamos esse facto com o nosso professor. Ele confessou a sua tristeza pela fraca adesão dos alunos ainda que isso o não surpreendesse. Já tinha presenciado outros eventos semelhantes ainda com menos assistentes. Aconselhou-nos, no entanto, a não desaminar. A independência de Timor seria um caminho penoso mas continuaria a lutar pela causa ainda que ninguém o quisesse ouvir.

Já anteriormente, pela a forma como lecionava, tinha uma opinião bastante positiva de JMP. Ela saiu bastante reforçada depois desta sessão.

No ano seguinte JMP abandonou a minha faculdade e apenas de tempos a tempos tinha notícias suas, normalmente, quando ocorria algum evento relacionado com a causa timorense.

Recentemente fiquei, negativamente, surpreendido que vi noticiada a sua eleição para a direcção do BE. No entanto o verdadeiro choque foi a comentário que hoje li no Abrupto acerca do 11 de Setembro. Diz JPP:

Na TSF, José Manuel Pureza explicou aquilo que a capa do Público diz: tinha sentido associar os dois onze de Setembro [a deposição de Allende e o ataque ao WTC] pois estes estavam unidos pelo ?expansionismo americano?. Está tudo esclarecido. É uma forma de pensar próxima do negacionismo do holocausto. E campos de concentração será que houve?


Concordo em parte com JPP. A semelhança como o negacionismo do holocausto reside "apenas" na gravidade e no despudor das afirmações. Não é, no entanto, idêntica. Estes "pensadores" não negam os atentados. Eles justificam-nos como o resultado natural das acções do "imperialistas americanos". A culpa,segundo eles, não é dos extremistas islâmicos. É "nossa. Ainda que os valores professados pelos terroristas contradigam todos os seus valores. Como escreveu recentemente Nelson Lehman (director do Instituto Liberal de Brasília):

Hoje, os valores em evidência proclamados pelos autodenominados progressistas poderiam ser assim listados: Democracia Participativa, Direitos de Minorias raciais , culturais e de ?gênero?, Afirmação Feminista, Liberdade e de Expressão, Pluralismo Cultural, sacralização do Meio-Ambiente, e outros temas correlatos. A consciência destes valores tem sua origem, seus idelizadores e promotores, em indivíduos e organizações norte-americanas.

Onde tais valores são desconhecidos e mesmo hostilizados ?

Em atrasadas comunidades do terceiro mundo, no ambiente cultural Islâmico, nos remanescentes regimes comunistas, Coréia do Norte e Cuba.

No entanto, o alvo predileto de todos os ressentidos ataques dos progressistas, ou utópicos socialistas, são justamente os Estados Unidos da América.

Sem perceber o paradoxo, nossos progressistas esquerdófilos tomam o partido das sociedades patriarcais, machistas, autoritárias, supersticiosas, opressoras, dogmáticas, intolerantes, representadas pelas sociedades muçulmanas, tribais e comunistas. Já sua irracional crítica se volta contra a matriz de seus próprios ideais democráticos, pluralistas, libertários, os Estados Unidos. Apenas deste cobram ética, tolerância e Direitos Humanos, jamais da Al Kaeda, das FARCs ou do MST.

Eis a psicopatologia de nossos tempos.


É, no mínimo triste, que eles não se apercebam disto. É ainda mais triste quando me apercebo que "nestes" deva nclui o meu antigo professor.
posted by Miguel Noronha 10:59 da tarde

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