O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

O Intermitente
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sexta-feira, novembro 14, 2003

Amor e Ódio

Do artigo de Esther Mucznik no Público:

[N]ada é menos "lógico" do que considerar Israel a principal ameaça mundial, como 59 por cento dos europeus inquiridos assim o fizeram. O único país democrático da região seria, assim, mais perigoso do que a Coreia do Norte, o Irão, a Síria, ou a Arábia Saudita, países dominados por ditaduras, que reprimem a ferro e fogo os seus cidadãos e que só surgem como mais pacíficos do que Israel devido à censura férrea que nada deixa transparecer? O país que aceita trocar mais de 400 prisioneiros árabes por uma única vida e três cadáveres será mais perigoso do que aqueles que fomentam e albergam redes de terror cujo objectivo é apenas a destruição do maior número possível de vidas sejam elas "fiéis ou infiéis"? O único exército do mundo que possui um código de conduta ética, do qual participa um filósofo, e cuja regra central é poupar o maior número possível de vidas inocentes será mais perigoso do que as armas destruição maciça nas mãos de países como a Coreia do Norte ou o Irão, "experts" na arte de dissimulação dos seus arsenais bélicos? E se houver uma terceira guerra mundial ela surgirá por causa de Israel, como profetisa Miguel Sousa Tavares, ou por causa do terrorismo internacional, cujo objectivo é, como não pára de afirmar Bin Laden, continuar o combate iniciado no século VII pela dominação religiosa do mundo?

Israel não está acima da crítica e pode-se legitimamente discordar da sua política. Mas alguém de boa-fé acredita que uma vez Israel em paz com os seus vizinhos ou, na pior das hipóteses, se desaparecer do mapa, o combate do fundamentalismo contra a liberdade, nomeadamente a liberdade das mulheres e a democracia, desaparecerá?

O conflito israelo-palestiniano tem de ser resolvido urgentemente, não porque constitua a maior ameaça à paz mundial, mas para acabar com o sofrimento palestiniano e israelita. E, também, para deixar de servir de álibi ao terrorismo e de bode expiatório à tragédia humana causada pela miséria económica e repressão política que sofrem muitos países muçulmanos.

Hipocritamente, a Comissão Europeia procurou distanciar-se dos resultados e até do próprio inquérito. Mas estes são apenas a consequência da política de dois pesos e duas medidas característica da UE e de uma intensa campanha de opinião pública de diabolização de Israel, endossando a este todas as culpas do conflito. O resultado deste inquérito não é mais do que o fruto da semente que há décadas é plantado pela União Europeia. E que é facilitado pelo jogo aberto da vida política em Israel, onde qualquer abuso cometido pelo Governo, o exército, os colonos ou seja quem for, é imediatamente e talvez mais do que em qualquer outro país tornado público.

Alguns comentadores têm afirmado que a política israelita fomenta o anti-semitismo e é a responsável pelas numerosas agressões verbais e materiais a pessoas, sinagogas e cemitérios judaicos, na Europa e em particular em França. Assim, Israel seria uma ameaça não só à paz mundial, mas ainda por cima também responsável pelo anti-semitismo, não só nos países árabes, mas também na própria Europa. Tão fácil e tão cómodo! Só que esses comentadores esquecem que nada, absolutamente nada, justifica qualquer tipo de antijudaísmo, seja ele em nome do povo palestiniano ou de qualquer outra razão. Basta andar pelas ruas de Paris para ver o resultado desta política: nas mesquitas, nomeadamente na grande mesquita central, entra-se normalmente, paga-se o bilhete de entrada, visita-se naturalmente. Ainda bem! Em contrapartida, as sinagogas parecem fortalezas sitiadas. Paranóia ou simplesmente consciência do perigo?

Como acima referi, a paz é urgente. Tal como é urgente uma mudança na política europeia relativamente a Israel. Para que possa finalmente contribuir para a paz no Médio Oriente, mas também no seu próprio espaço.

posted by Miguel Noronha 2:23 da tarde

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