O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

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quinta-feira, janeiro 29, 2004

Entrevista com Douglass North - pt III

Veja - Como o senhor explica então o fato de a Índia, outra ex-colônia da Inglaterra, até hoje não ter conseguido chegar nem perto dos Estados Unidos?

North - A história mostra que o grau de assimilação das instituições européias por parte das colônias variou muito de um país para o outro. Os melhores estudos na área enfatizam uma associação direta entre o nível de absorção das instituições vindas da Europa e a maneira como a população nativa recebeu os colonizadores.

Quanto mais refratária a população local, menor era o raio de influência européia. Na Índia, por exemplo, a gigantesca massa de indianos aceitou apenas moderadamente a sólida herança institucional britânica. Eles desenvolveram bem suas leis em relação à propriedade privada, mas até hoje têm instituições capengas, porque ficaram impermeáveis àqueles pilares ingleses. Uma maior integração entre europeus e indianos teria facilitado a implantação das novas regras. Mas isso ainda não explica tudo. No caso dos Estados Unidos, como se sabe, a relação de índios e ingleses era belicosa, e mesmo assim os colonizadores conseguiram implantar o modelo britânico de instituições.

Veja - Como?

North - A explicação é cruel e ninguém se orgulha dela, mas o fato é que, no caso americano, os ingleses foram bem-sucedidos na implantação de suas regras porque conseguiram controlar a imensa população indígena local.

Fizeram isso colocando os índios em reservas com o objetivo de mantê-los isolados e também dizimaram uma parte deles. É feio? Claro. No entanto é um capítulo da história dos Estados Unidos que ajuda a entender por
que o ponto de partida dos americanos foi tão melhor que o de outros países.

Veja - Há diversas teorias para explicar o enriquecimento de um país: a religião, o tipo de clima e os recursos naturais são a base de algumas delas. O que o senhor acha dessas teses?

North - Não dá para dizer que um clima propício à agricultura ou a abundância de petróleo não têm peso nenhum. O fato é que a natureza por si só não leva um país para a frente. Nesse ponto, os estudos que desenvolvo há mais de cinco décadas não deixam dúvida: sem instituições fortes uma nação não abandona o atraso nem a pobreza. Veja o caso da Venezuela. Nos últimos dez anos, passei longos períodos lá e cheguei à triste conclusão de que a presença do petróleo não apenas não foi suficiente para mudar a situação socioeconômica dos venezuelanos como inclusive inibiu o desenvolvimento de outros setores. Isso porque eles concentraram forças nessa única atividade e, para piorar o quadro, não detinham o respaldo de boas instituições para turbiná-la. No outro extremo, gosto de colocar Israel, um país de terra pobre, pouquíssimos recursos naturais, mas que conseguiu dar um salto graças a um conjunto de instituições eficientes, especialmente na área econômica. A questão palestina atrapalha e evidencia certo atraso no campo da política, mas, no todo, Israel ultrapassou - e muito - países de natureza bastante mais promissora tendo partido do mesmo patamar.

posted by Miguel Noronha 4:34 da tarde

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