quinta-feira, janeiro 29, 2004
Entrevista com Douglass North - pt IV
Veja - E qual é o peso que o senhor atribui à religião na história da riqueza das nações?
North - O tipo de crença de um povo é fundamental para determinar o ritmo de crescimento de um país. Sabe-se, por exemplo, que da ética protestante e suas idéias positivas sobre o trabalho pesado se originou o espírito do capitalismo na Europa. Então a religião vem antes das instituições?
Definitivamente, não. Elas são a mesma coisa. As instituições de um país são a síntese das crenças de seu povo. Repare que aqui não estamos falando só de religião, mas de crenças construídas no passado remoto das nações, produto da experiência dos homens em diferentes climas e ambientes.
As instituições são a expressão concreta da mentalidade das pessoas. Essa constatação ajuda a compreender por que há instituições tão distintas umas das outras nos variados cantos do planeta - as pessoas pensam diferente.
Veja - Qual é a marca mais forte das instituições políticas e econômicas da América Latina?
North - Se um país quer ser produtivo e moderno, ele precisa cada vez mais afastar-se das negociações pessoais e criar mecanismos para que indivíduos que nunca se viram estabeleçam uma relação comercial objetiva. É aí que as instituições se tornam necessárias. Quanto mais transparentes elas forem, maior será a confiança das pessoas em investir e manter relações comerciais de grande escala. E, como se sabe, sem isso não existe crescimento econômico para valer. Pois nos países da América Latina prevalece desde os tempos coloniais forte tendência à personalização das relações comerciais entre os indivíduos. Persiste a informalidade nos negócios. Trata-se de uma questão cultural que dificulta até hoje a construção de um conjunto institucional baseado na objetividade capitalista. No século XXI, os países da América Latina ainda encorajam um modelo de trocas pessoais enterrado há muito tempo nos Estados Unidos e na Europa.
posted by Miguel Noronha 5:40 da tarde
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