quarta-feira, janeiro 28, 2004
Fórum Social Mundial, Tal e Qual
Artigo de Percival Puggina.
Encerrado o 4º Fórum Social Mundial, mantém-se o conceito que expendi sobre o primeiro da série, realizado aqui em Porto Alegre no ano de 2000: trata-se de um mega encontro das esquerdas internacionais, com o qual, sem o qual ou pelo qual tudo fica tal e qual.
Com efeito, o FSM é uma grande reunião cuja principal finalidade se resume em ser exatamente isso. Não que promover uma grande reunião seja pouca coisa, principalmente quando a reunião vem em socorro de uma outra de suas finalidades: fazer com que seus participantes se sintam participando e com que os militantes da esquerda se percebam militando. E se você é desses tipos pragmáticos que não atribuem valor a algo tão sublime, saiba que todos os participantes de um FSM chegam ao seu término nutridos, por um ano inteiro, com o protéico sentimento de desacordo perante o rumo das coisas. E bota coisas nisso, companheiro!
Tal desavença é exibida como obra pessoal, do tipo "eu fui a Mumbai, cara!", e pode ser sintetizada na benévola, nostálgica e sedutora afirmação que é a marca do evento. Gente ocupadíssima suspende todas as atividades e vai à Índia, e vêm ao Brasil - até parecem Colombo e Cabral - para proclamar que "um outro mundo é possível". E o fazem com satisfação semelhante à dos cientistas da NASA quando anunciaram haver gelo em Marte. Agora só falta levar o uísque, se é que me entendem.
Já ao FSM não precisa levar coisa alguma porque uísque e gelo estão disponíveis nos hotéis cinco estrelas onde se instala a elite da esquerda mundial. Com bons tratos, viagem e diárias custeadas por alguma Organização Não Governamental sustentada com dinheiro de algum governo, claro, eles deixam diariamente suas suítes para irem aos salões do evento reclamar das desigualdades existentes no mundo dos vivos e dos mortos.
A imprensa engajada se esforça em mostrar que o Fórum evolui, mas os fatos evidenciam que a única coisa que muda é o número de ordem do evento. Já caminhamos para o quinto. E ele será realizado, novamente, aqui em Porto Alegre.
A capacidade criativa e gerencial da esquerda jamais convergiu para algo além da propaganda (e o FSM entra nesse esquema), da prisão política, do aparelho de repressão, da segurança de estado. Não lhe peçam para organizar um boteco porque será um desastre. Como acontece nos países socialistas, o boteco vai ter fila na porta, pela simples razão de que será o único boteco em funcionamento. Mas vai dar prejuízo. Em resumo, um outro mundo não só é possível como já existiu. E caiu de podre e incompetente.
posted by Miguel Noronha 5:21 da tarde
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