O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

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quarta-feira, janeiro 28, 2004

Os EUA e a ONU

Este post constitui uma resposta ao comentário que o Bloguitica fez ao artigo David Frum e Richard Perle ontem aqui publicado.

A ameaça de abandono da ONU por parte dos EUA não me parece ridícula e muito menos patética. Não me parece, contudo, que essa ameaça deva ser entendida como um ultimato (destina-se apenas a aumentar a pressão sobre alguns países e sobre o Secretário-Geral) nem como um abandono de todas as organizações que se acolhem na ONU (relembro que os EUA abandonaram a UNESCO nos anos 80 por não concordarem com as políticas desta).

O "alvo" deste ultimato parece-me ser o Conselho de Segurança (CS) particularmente os restantes membros permanentes que (com a excepção do Reino Unido) procuram organizar um polo antagónico às recentes políticas da Administração Bush.

Não creio que alguém se arrogue da fantasia de um CS sem os EUA. Estes são os únicos com o poder militar capaz de impor as deliberações do dito Conselho. Não querendo minimizar o poderio militar de outros países nenhum destes possui, per se, a capacidade de contribuir com os homens e o equipamento necessário para substituir os EUA. A única excepção parece-me ser a China mas nem esta nem os restantes membros do CS parecem mostrar grande interesse em que este participe em intervenções externas. Por outro lado as patéticas (essas sim) tentativas da França (com a Alemanha a reboque) de constituir um exército europeu parecem-me, pelo menos nos tempos mais próximos, votadas ao fracasso.

No seu texto afirma Paulo Gorjão "EUA estariam mais seguros deixando ruir a estrutura de segurança internacional que, bem ou mal, ainda vigora??.." Deixem-me colocar o problema nestes termos: a "estrutura de segurança internacional" que vigorava ruiu de vez depois da invasão do Iraque. Mais do que isso. Não antevejo grande futuro para a NATO. A posição Chamberlainiana (perdoe-me o neologismo) assumida pela França e pela Alemanha que preferiram aliar-se à China e a Rússia fizeram ruir a confiança que vigorava entre os aliados ocidentais.

O problema é de enunciação simples (citando o artigo de Frum e Perle):

In a little more than a decade, our world has been transformed, first by the fall of the Soviet Union and then the events of 9/11. Everything has changed--except for the UN. It remains an invention of a vanished era, designed to solve vanished problems. It must evolve or it will slide from irrelevance to oblivion. If the UN is not part of the anti-terror fight, the United States should not be part of the UN.


O Conselho de Segurança já não reflecte (nunca reflectiu poderemos eventualmente dizer) o status quo que vigora. A resolução do problema, e aqui concordo com o que diz Paulo Gorjão, é que se afigura complicada devido à recusa de certos países em ver reduzido o seu estatuto. Se estes países permanecerem irredutíveis a ameaça de Perle e Frum pode vir a tornar-se realidade.
posted by Miguel Noronha 11:43 da manhã

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