quarta-feira, janeiro 14, 2004
Vêm aí os Chineses!
Conforme foi noticiado por vários orgãos de informação as várias associações nacionais da industria têxtil e do vestuário (ITV) irão realizar conferências de imprensa simultâneas em todas as capitais da UE.
Estas alertam para o perigo é a invasão chinesa de produtos similares que se verificará quando forem anuladas as barreiras alfândegárias daqui a um ano.
Fala-se da morte das ITV por toda a Europa, do "dumping social", da subvalorização do Yuan (a unidade monetária chinesa), do desemprego, etc. Os cenários invocados váriam da catástrofe à hecatombe.
O que os industrias da ITV, basicamente, pretendem é a continuação das barreiras aduaneiras. Por outras palavras a continuação das medidas proteccionistas a este sector.
Conforme já várias vezes aqui realcei o proteccionismo nunca gerou industrias competitivas. Escudados por medidas administrativas os industriais dos sectores protegidos da concorrência não necessitam preocupar-se com a produtividade, a redução de custos ou mesmo o serviço ao cliente. O seu mercado está sempre garantido por beneplácito estatal.
As associações da ITV prevêm um cenário dantesco ao relatar "casos de dumping, em que o esforço dos orientais implica a venda de produtos a preços inferiores aos praticados na China. Em alguns casos, o preço dos bens importados baixou 75% em apenas dois anos". Qualquer cenário em que um produto tenha uma redução de preço na ordem dos 75% só pode ser uma boa notícia para o consumidor. Passa a pagar apenas 25 pelo que anteriormente lhe custava 100 e com os restantes 75 pode obter um consumo ou poupança adicionais.
Correndo o risco de chocar alguns ouso afirmar que mesmo se esta redução de preços resultar de dumping ou da subvalorização do Yuan tal não alterará em nada a minha análise. Se os chineses querem subsidiar o nosso consumo à sua custa apenas temos de agradecer-lhes.
As questões do chamado "dumping social" já foi largamente discutida na blogosfera (ver a propósito diversos posts do Jaquinzinhos). As condições de trabalho evoluem com a situação económica de um país (basta lembra-mo-nos do nosso próprio caso). Por outro lado ao pretendermos impor, aos países mais atrasados, condições (e custos) laborais similares estamos a impedi-los de concorrer com os países mais desenvolvidos no único factor em que estes podem ter um vantagem: no custo. Estaremos, desta forma, a criar desemprego nesses países.
É, altamente provável, que várias empresas europeias não consigam suportar a pressão concorrêncial das ITV chinesas. Estas serão, contudo, aquelas que baseiam a sua vantagem competitiva no mesmo factor das empresas chinesas. O custo. Atrevo-me a afirmar que as restantes não serão afectadas pela "abertura das fronteiras".
O capital provieniente do desinvestimento não ficará certamente parado. Será reinvestido noutras industrias onde ainda existam vantagens competitivas para as industrias europeias. Tal reafectação de recursos será um factor de crescimento, a médio prazo, das economias europeias.
Penso, espero que de forma não muito confusa, ter rebatido os argumentos do "partido proteccionista". A UE só terá perder se procurar reverter esta decisão. Se aos consumidores a desagradar os texteis "made in china" a opção será simples. Continuem a comprar produtos "made in UE".
posted by Miguel Noronha 9:27 da manhã
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