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quinta-feira, março 11, 2004

Barbárie

Artigo de Herminio Santos no Diário Digital

O que dizer do banho de sangue de Madrid? Todas as palavras, todas as expressões, todas as surpresas, todas as dúvidas, todas as imagens, tudo é demasiado vulgar e banal para descrever as imagens impressionantes que chegaram a todo o mundo a partir da capital espanhola. Mulheres, homens, jovens, crianças, velhos, gente vulgar, iam a caminho de mais um dia de trabalho ou de escola quando tudo foi pelos ares. Quem viu as imagens, o desespero e o ar perdido das pessoas que conseguiram escapar com vida das explosões não pode deixar de sentir um nó na garganta.
Quase 200 mortos, mais de 1000 feridos, um remake de Bali numa das principais cidades europeias. É o primeiro grande atentado numa Europa que ainda olha para o terrorismo como se fosse um problema dos EUA ou, quanto muito, da Espanha e do Reino Unido, com a ETA e o IRA. Foi preciso esta tragédia para ser decretado um dia europeu dedicado às vítimas do terrorismo, o que não deixa de ser triste. É sempre triste quando as tragédias aparecem como argumento para reparar situações ou corrigir lapsos ou esquecimentos.

Apesar do que alguns especialistas dizem, o atentado tem todas as condições para ser atribuído a uma ETA adaptada ao século XXI, uma organização muito fustigada pela justiça mas que mantém células activas, provavelmente de uma nova geração de operacionais com maior autonomia e menos obediência à hierarquia tradicional. Basta recordar as operações da polícia espanhola no Natal e já este ano onde foram detidas pessoas que se preparavam para fazer atentados de grande dimensão em Madrid. Duas delas tinham mesmo como objectivo a estação de comboios de Atocha.

Há outro dado interessante e que passou praticamente despercebido na enxurrada de notícias que varreu as redacções: a agência espanhola Europa Press noticiou que, no dia anterior aos atentados, desconhecidos distribuíram panfletos em várias ruas da zona velha da cidade de San Sebastian onde se apelava à sabotagem da Renfe, a companhia de caminhos de ferro espanhola. Os papéis eram anónimos, estavam escritos e castelhano e basco e continham também declarações contra o estado espanhol.

Os panfletos podem ser apenas mais um dado mas podem também contribuir para deitar por terra a pista islâmica, uma tese que daria imenso jeito a muita gente pois deslocaria imediatamente a discussão, como se o terrorismo se dividisse entre bons e maus.

posted by Miguel Noronha 6:57 da tarde

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