quarta-feira, março 17, 2004
Esclarecimento
Que fique bem entendido. Nenhum comentário que, desde ontem, aqui coloquei pretende por em causa a validade da vitória eleitoral dos socialistas em Espanha. Não pretendo, igualmente, discutir o direito dos espanhois optarem por uma mudança de Governo. Julgo, no entanto, que me é permitido discordar das razões porque o fizeram.
Não duvido que o desgaste provocado por oito anos consecutivos de governação e a troca da Aznar por Rajoy tenham tido um peso considerável na mudança do sentido de voto dos eleitores. Alguma inabilidade na gestão política da situação pós-atentado fizeram o resto.
É possível que o Governo de Aznar tenha, de certa forma, pressionado certos orgãos de informação no sentido de veicular a tese da autoria da ETA. No entanto julgo, que o PSOE também se aproveitou da situação fazendo passar a imagem que o Governo estava a "esconder a verdade". Esta tese, pelo menos na sua versão mais "conspirativa" é pouco credível. A inexistência de um monopólio informativo estatal impossibilitava que apenas a "versão oficial" fosse a veículada. Acresce ainda que a rapidez com que foram efectuadas, e publicitadas, detenções (a maior parte das quais no Sábado), parece demonstrar que não foram colocados entraves à investigação policial. Também não me conveço da espontaneidade das manifestações de Sábado.
Ao PSOE interessava, aliás, crediblizar o mais possível a tese da Al-Qaeda. A memória do encontro entre Carod-Rovira, o aliado catalão dos socialistas, e a direcção da ETA em França colocaria o PSOE numa situação extremamente difícil caso tivesse sido esta a autora do atentado. Não duvido também que o PP tenha procurado tirar dividendos políticos desta possibilidade. Não nos devemos esquecer também que até Sexta (12/03) todos - incluindo a direcção do PSOE, Ibaretxe e o próprio Carod-Rovira - acreditavam que tinha sido a ETA a autora do atentado.
Para terminar, ainda que os espanhois não tenham votado a mudança de Governo motivados pelo medo de outros atentados terroristas o resultado não deixa de ser idêntico. A Al-Qaeda matou 200 pessoas para convencer os espanhois a sair do Iraque e Zapatero irá fazer-lhe a vontade. Como Andrew Sullivan escreveu (num texto que eu hoje citei) é a pior mensagem que se pode dar aos terroristas.
NOTA: Não falei prepositadamente da justeza da guerra no Iraque. Não era o objecto deste post. Para além disso julgo que são conhecidas as razões porque a apoiei e continuo a apoiar.
posted by Miguel Noronha 2:52 da tarde
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