sábado, março 27, 2004
Saramago
Excerto de "O Ressentimento - 2" no Miniscente.
Ao fim e ao cabo, a luta do ressentido é entre si e as suas feridas, projectando essa dor irradiante e autista na sociabilidade plural que o envolve e onde se vê irreparavelmente obrigado a viver. É também por essa razão que o ressentido não é capaz de escutar um único eco ou conforto para a sua voz amarga. Sobretudo porque o lamento ferido dessa voz se resguarda na sua própria pele acossada, longe da abertura e das possibilidades múltiplas criadas pelos espaços públicos actuais.
O ressentido detesta o debate franco e procura nos mecanismos complexos e variados da democracia todas as chaves do (seu) inêxito e da (sua) injustiça. O ressentido passou até a traçar equivalências delirantes entre a compreensão que sente pelo terrorismo contemporâneo e os males cirúrgicos da democracia que detecta com escalpelo de clara má-fé.
posted by Miguel Noronha 8:03 da manhã
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