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segunda-feira, setembro 06, 2004

A Impossibilidade do Socialismo

Sinopse do livro "Socialismo, cálculo económico y función empresarial" de Jesús Huerta de Soto traduzida por Lucas Mendes e publicada no Midia Sem Máscara. O original de Daniel Rodríguez Herrera foi publicado (em espanhol) no liberalismo.org.

O debate sobre a impossibilidade do socialismo nasceu com o artigo de Ludwig von Mises ?O Calculo Econômico numa comunidade socialista?, escrito em 1920. Durante as décadas seguintes, teóricos socialistas tentaram rebater o argumento do grande economista, sendo contestados por seu grande aluno Hayek. Os economistas socialistas nunca chegaram a atacar o problema fundamental iniciado pelos economistas austríacos.

Este livro de título pouco prometedor, do catedrático espanhol Jesús Huerta de Soto logra explicar estas questões, com uma claridade que nem o próprio Mises em seu "Socialismo" conseguiu igualar. É, portanto, uma referência indispensável para todos aqueles que queiram entender por que o socialismo é inviável e aprender como se desenvolveu historicamente este debate, incluindo os argumentos de economistas comunistas como Oskar Lange.

A propriedade privada e o livre comércio permitem criar oportunidades de ganhos no mercado. Uma oportunidade de ganho se produz porque existe uma oferta de produtos, graças aos que tem liberdade e meios para alcançá-lo colocando um preço que permite obter ganhos. Esses preços atuam como sinais: outros empresários se dariam conta desses ganhos e competiriam para obtê-los, baixando os preços e beneficiando a todos, quando em realidade queriam beneficiar-se a si mesmos.

Mas isto tem outra conseqüência: os meios de produção também são propriedade privada. Os recursos, a maquinaria, os trabalhadores e, em última instância, o meio necessário para a produção se deslocará para aqueles negócios mais lucrativos e, portanto, mais necessários, posto que os consumidores pagarão mais por eles. O uso racional dos recursos e do capital é o que se denomina cálculo econômico: a propriedade privada tem gerado a informação necessária, através do sistema de preços, que permite levar as preferências dos consumidores e produtores.

Mediante a abolição da propriedade privada e do livre comércio, desaparece todo incentivo para produzir e vender. Sem os produtos a venda, não existe oferta nem, portanto, trocas comerciais. Sem as trocas, não criam os preços no livre mercado. Sem os preços, não existe a informação que permite conhecer os interesses dos consumidores e a forma mais eficiente de produzir os bens que consumimos. O socialismo, entendido como propriedade pública dos meios de produção, elimina a possibilidade de gerar o conhecimento necessário para que a economia funcione. Com efeito, na URSS os preços oficiais consistiam na aplicação de múltiplas formulas que tomavam como base os preços de mercado dos malvados países capitalistas. Inclusive sua incapacidade teria sido maior se o capitalismo não teria emprestado uma de suas maiores criações: o conhecimento que produz o mercado.

Por suposto, a impossibilidade é, neste caso, relativa. Evidentemente que podem existir sistemas socialistas em tribos ou outras organizações sociais pequenas. Mas levar esse sistema a uma sociedade mais ampla culminaria em enormes problemas de coordenação e a redução prática da capacidade da mesma gerar a divisão do trabalho. Esta sociedade não poderia manter nem o nível de vida nem a população que existe no mercado. O resultado é a pobreza e a miséria, maiores quando mais estrito se leva o paradigma socialista, como sucedeu na Rússia de Lênin antes da NEP e na Camboja de Pol Pot.

A essência básica do esplêndido livro é que as dificuldades dos governos comunistas não se deveram a perversões do nobre ideal, nem a estranha "causalidade" de que sempre levaram ao poder os piores políticos. Foram o que foram, porque seu sistema econômico era e é completamente impossível de aplicar sem as desastrosas conseqüências.


posted by Miguel Noronha 2:55 da tarde

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"A society that does not recognize that each individual has values of his own which he is entitled to follow can have no respect for the dignity of the individual and cannot really know freedom."
F.A.Hayek

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