O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

O Intermitente
(So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

quinta-feira, novembro 04, 2004

António Barreto: A UE e a Relação com os EUA

Excerto da entrevista a António Barreto no Público.

Não há uma cidadania europeia, não há uma democracia europeia. Por isso sou defensor desde há muitos anos que o Parlamento Europeu devia ser constituído por parlamentares saídos dos parlamentos nacionais. O governo da União devia estar mais próximo das maiorias políticas do que se demonstrou estar. Basta pensar que quase todos os governos que fizeram a Comissão foram os governos que perderam as eleições europeias. Este desfasamento aumenta a opacidade das instituições e o desinteresse dos europeus.

(...)

[O]utro problema, (...) tem a ver com as crenças pessoais dos titulares de lugares políticos. Não gostei do que disse Butiglionne, não partilho as suas opiniões, mas ele tem de ter direito às suas convicções. Não se pode estabelecer um "politicamente correcto", que só pode ser membro da comissão quem pensar A. B. C ou D sobre um conjunto de assuntos civilizacionais. Este é um problema sério que tem de ser encarado na União e nos países membros. Tem de se ter direito às suas crenças, por mais que discordemos delas.

(...)

Não vou lutar contra a Constituição Europeia, mas vou votar contra no referendo. E tenho uma grande esperança que haja não um, mas cinco, seis países que votem contra nos parlamentos ou nos referendos. Até porque podemos perfeitamente viver mais uns anos - dez, vinte - com as instituições que temos. A ideia da Europa federal, ou federalizante, constituiu o mais poderoso aparelho de propaganda e intoxicação das opiniões. A ideia de que a Europa não pode parar, a ideia da bicicleta, porquê? Porque é necessário estar sempre a modificar os tratados?

Ora o Tratado Constitucional aumenta a ficção com um Presidente da Europa e com um ministro dos Negócios Estrangeiros, para além de aumentar a ficção do Parlamento Europeu. Modificá-lo vai ser muito mais difícil e ele fixa o que hoje está errado. Prefiro uma Europa mais flexível, menos rígida, e isso garante-lhe uma longa vida.

(...)

A Europa antes de vários séculos não será uma potência rival. Enquanto não tiver uma estrutura de defesa e militar tão poderosa nunca será rival, e a Europa não está preparada, governos e opiniões públicas, para gastar muito mais em Defesa.

(...)

[P]enso que a solução de defesa transatlântica é uma boa solução, não vamos mexer nela.

(...)

Durante anos o Iraque desafiou a comunidade internacional e esta não encontrou uma resposta por causa, simultaneamente, da pressão americana e da omissão europeia. Se a França e Alemanha se têm aproximado mais dos Estados Unidos, não só estes não teriam ido tão longe sozinhos como Saddam teria cedido ou algo sucederia que permitiria uma solução melhor do que a adoptada.


posted by Miguel Noronha 9:48 da manhã

Powered by Blogger

 

"A society that does not recognize that each individual has values of his own which he is entitled to follow can have no respect for the dignity of the individual and cannot really know freedom."
F.A.Hayek

mail: migueln@gmail.com