segunda-feira, fevereiro 07, 2005
Entrevista com Rui Ramos
Faço uma breve pausa no meu retiro para recomendar a leitura da entrevista ao historiador Rui Ramos no Público (partes I, II e III, IV)
. - Já escreveu que em Portugal se vive um clima em que existe como que uma espécie de superioridade moral da esquerda, remetendo a direita para o papel de alguém que só é chamado para administrar as contas...
R. - Esse é um quadro de desequilíbrio político que tem raízes no comprometimento das direitas com o Estado Novo. Isso leva até a que a direita nem se assuma como direita, quando muito coloca-se à direita da esquerda. E também leva a que os partidos de direita não dêem aos seus projectos uma dimensão política e tenham tendência em afirmá-los pela sua dimensão económica. Ora defender o "crescimento" ou o "equilíbrio das contas públicas" é reduzir ao esqueleto económico o que é um projecto político e é um sinal da nossa imaturidade democrática. O nosso sistema político tem imenso medo do confronto. Somos uma sociedade traumatizada pelo confronto, pelo que existe imenso medo que a afirmação de projectos políticos fortes, ideologicamente demarcados, possa resultar numa espécie de guerra-civil. Criou-se o mito de que estamos divididos acerca dos meios mas estamos unidos acerca dos fins. Isso é falso: estamos é divididos acerca dos fins e precisamos de nos entender acerca dos meios. E os meios são os da democracia.
posted by Miguel Noronha 5:25 da tarde
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