O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

O Intermitente
(So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

segunda-feira, março 03, 2003

Confissões de um ex-estudante

Em 1988 (se não me falha a memória) quando Roberto Carneiro foi nomeado Ministro da Educação estava eu no 12º ano.
Era considerado um ano "terrivel". Tinhamos que estudar quantidades abismais de matéria (mal sabia eu o que me esperava na Universidade...) e, como se não bastasse no final do ano tinhamos que fazer três-exames-três!
Mas eis que o Ministro anuncia uma grande restruturação do Ensino em Portugal. Ia rever os prgramas lectivos de alto a baixo e, pela parte que me dizia respeito, ia acabar com os exames no fim do ano e criar uma enigmática prova de cultura geral.
Os exames iam ser decididos caso a caso por cada Faculdade e para cada curso.
Confesso que fiquei extasiado. Já não tinha que fazer exames e quanto a essa prova-que-ninguém-sabia-muito-bem-o-que-era logo se veria.
Como a decisão do Ministro já foi tomada muito em cima do final do ano lectivo, muitas Faculdades, optaram por não fazer exames nesse ano. Contavam só com as notas do 12º ano e com o resultado da PGA.

Esta pequena (grande) introdução serviu apenas para contar como começou se iniciou a destabilização do Sistema de Ensino em Portugal.

Depois de Roberto Carneiro vieram uma miriade de Ministros, cada um com as suas ideias, cada um com as suas reformas. Normalmente a primeira medida que tomavam (e porque era popular dado que por tudo e por nada havia contestação dos alunos e professores) era colocar uma lápide na reforma anterior. Normalmente quando eram demitidos estavam a acabar de enterrar o defunto anterior e preparar a "sua" reforma que entraria em funcionamento no ano seguinte.

Os curriculos podiam estar desactualizados e podia-se rever o processo de avaliação. Mas, para além de uma enorme confusão curricular, os únicos resultados palpaveis das inumeras "reformas" são o cada vez menor numero de momentos de avaliação (testes, exames, etc) e uma desresponsabilização dos alunos quanto ao seu comportamento e performance escolar.

Os professores são "aconselhados" a passar os alunos porque o "chumbo" para além de "problemas com os pais", significa o preenchimento de uma enorme quantidade de papelada para o justificar. Pode-se sair do (antigo) Ciclo Preparatório sem saber escrever nem interpretar um texto ou perceber patavina de matemática. Segundo me disseram recentemente até já os ditados são considerados "anti-pedagógicos" porque provocam stress nos alunos...

E porque é que eu me lembrei disto hoje? Porque segundo uma notícia do Diário Digital continuamos alegremente pelo mesmo caminho...
posted by Miguel Noronha 8:13 da tarde

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F.A.Hayek

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