sábado, março 22, 2003
Emmanuel Todd
O sociologo Emamanuel Todd cujas posições anti-globalização e nacionalistas levantam por vezes duvidas se não será um maurrasiano encapotado demonstra numa entrevista alguma dificuldade em perceber a realidade.
Diz coisas aberrantes como"...os EUA estão à beira do desespero, pois não conseguiram impor a sua vontade" ou "A diplomacia americana sofreu uma pesada derrota. E agora Bush tem medo de cair no ridículo, se recuar. Porém o mundo está a organizar-se à margem dos EUA. E a guerra contra o Iraque irá acelerar este processo. Será uma aceleração histórica.".
Não terá sido ao contrário? O mundo descobriu que precisa mais do que nunca dos EUA. Especialmente da sua capacidade de intervenção a vários níveis. De que servem mil resoluções do Conselho de Segurança se este não tiver força politica e militar para as implementar?
E onde está a "nova organização do mundo" à margem dos EUA?
Para Emmanuel Todd ele começou "no facto de a brutalidade da política externa de Bush ter sido travada pelo par Alemanha e França. No mundo, nasceu um novo pólo com uma dinâmica bastante para atrair a si também a Rússia"
Não querendo voltar a debatar o tema da suposta "brutalidade" (já o fiz demasiadas vezes nestas páginas) não me parece que a Alemanha, a França e a Russia (e já agora a China) tenham conseguido travar o que quer que fosse.
Não sei se foi de proposito na sua crónica de Vasco Pulido Valente rebate por completo esta teoria. Acerca desta "aliança" e da suposta "nova organização" diz:
"De qualquer maneira, ela existe e assenta em duas premissas falsas. Por um lado, a de que os fins da França e da Alemanha são a longo prazo compatíveis. Segundo, a de que a América tenciona tolerar e cobrir, sem contrapartida, aventuras contra o seu estatuto e o seu poder. A América não precisa da «Europa», a «Europa» é que precisa da América"
A existir, esta nova "triplice entente cordiale", teria o problema de cada um dos seus membros pretender hegemoniza-la. Por outro lado, como diz VPV, a pretendida área de influência dos três países não são propriamente compativeis.
Voltando ao sociologo frio, o seu anti-americanismo chega ao extremos. Acerca da guerra no Iraque a resposta à pergunta "Essa teoria não cairá por terra se os soldados americanos forem aclamados libertadores?"
Já pensei nesse cenário. Porém, ele em nada altera a minha análise. Um libertador pode muito bem, após um período de tempo, passar a ser considerado ocupante que vai gerar forças de resistência. Os EUA podem vencer o Iraque mas nunca controlá-lo a longo prazo.
Para além de ignorar tudo o que a Administração Norte-Americana disse acerca do futuro do Iraque, Emmanuel Todd não permite qualquer duvida. As coisas são assim porque ele quer! Ao contrário do que VPV a retórica sobrepõe-se à realidade...
E para acabar com chave de ouro diz algo que permite que todas as duvidas se dissipem:
Os senhores coloniais também acreditavam na sua missão civilizacional da mesma maneira que Bush prega a democracia. Penso que este Governo americano tem uma relação patológica com a democracia
O nosso homem não acredita na Democracia. Afinal é isso....
Para terminar (agora eu) com chave de ouro não resisto a citar uma critica do Estado de São Paulo ao seu livro "A Ilusão Económica":
"A sério, não dá para ler. Exaspera. É um livro contra-indicado para intelectuais menores-de-idade pelos surtos esquizofrênico-culturais que pode induzir. Entretanto, visto como um fenômeno literário-cultural, é paradigmático da confusão mental que vivemos, e, tão só por isso, merece o tempo e espaço que se dedique à sua leitura e análise. Vou além. Quando se lê o livro com o senso de humor crítico recomendável, não há nada mais divertido. Qual Chacrinha, qual Henfil, qual Veríssimo, qual Chico Anísio, qual nada! O funcionamento intelectual da obra, os efeitos que ela tira das ricas informações com que opera, é muito mais hilariante. Para fazer rir, é muito superior a qualquer livro de anedotas"
posted by Miguel Noronha 10:31 da manhã
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