domingo, março 23, 2003
A Frente Ocidental
Até o NYT já percebeu. Os EUA acordaram e perceberam que não precisavam da Europa e a França colocou o seu "status" e as instituições pós-guerra em risco com sonhos megalomanos.
French officials insist that their dispute with the U.S. was about means, not ends, but that is not true. It was about the huge disparity in power that has emerged between the U.S. and Europe since the end of the cold war, thanks to the vast infusion of technology and money into the U.S. military. That disparity was disguised for a decade by the softer touch of the Clinton team and by the cooperation over second-order issues, such as Kosovo and Bosnia.
But 9/11 posed a first-order threat to America. That, combined with the unilateralist instincts of the Bush team, eventually led to America deploying its expanded power in Iraq, with full force, without asking anyone. Hence the current shock and awe in Europe. As Robert Kagan, whose book "Of Paradise and Power" details this power gap, noted: "We and the Europeans today are like a couple who woke up one day, looked at each other and said, `You're not the person I married!' "
António Barreto no Publico também alinha no mesmo sentido:
Com os mortos desta guerra, sejam eles americanos, britânicos ou iraquianos, vão também desaparecer ideias, projectos, hábitos e esperanças com que temos vivido há décadas e que, pelas boas e as más razões, nos deram conforto. Ou que muitos consideraram adquiridas. Eternas. Como a utopia infantil da democracia nas relações internacionais, que, aliás, nunca existiu. Ou o mito perene da moral e dos princípios como principal inspiração da política externa e da razão de Estado. Ou ainda o primado das Nações Unidas, na sua forma actual. Ou, finalmente, a certeza da Aliança Atlântica e da União Europeia
O mundo (deste) pós-guerra vai ser diferente.
Vai ser difícil reconstruir a Europa. Ou a União. A revelação da divergência de interesses foi longe de mais. A desconfiança entre Estados e dirigentes instalou-se por um longo período. A radical diferença de entendimento que cada um tem da Aliança Atlântica e das relações com os Estados Unidos torna impossível uma mera reconstrução. A ideia de que é possível "apanhar e colar os cacos" é absurda. Se alguma União é possível, se alguma NATO é viável, muitas serão as diferenças relativamente ao que temos hoje. Um novo impulso, uma nova orientação e novos objectivos são necessários. Vai ser preciso talvez esperar uma geração, ou a substituição do pessoal político por inteiro, para que seja possível, se algum dia for, refazer uma aliança europeia e atlântica. Para já, não se vê quem, pessoa, nação ou Estado, seja capaz de liderar tal esforço
Resta saber o que vai sobrar das "velhas" instituições.
Talvez "esta" ONU ainda seja víável se os restantes membros permanentes do CS anuirem num "downgrade" do seu estatuto.
A ONU não é só o CS nem a Comissão de Direitos Humanos liderada pela Libia. Certas instituições têm um papel relevante e bem mais consensual. O seu desaparecimento não seria desejável.
Por outro lado uma ONU sem os EUA não faz sentido. Retirava grande parte eficácia das suas decisões e, já agora, do seu financiamento...
Esperemos que a França não cumpra as suas promessas de bloqueio continuo no CS...
Quanto à NATO, depois do inédito veto da França, Bélgica e Alemanha e com a reconhecimento que já não necessita dos seus "velhos" aliados europeus, os EUA poderão reconstruir uma nova aliança permanente ou, talvez a hipótese mais crivel, confiar no seu aliado britanico fazendo alianças ad-hoc sempre que necessário.
Resta saber se não aproveitará as desconfiaça no seio da UE para atrair a Inglaterra para a NAFTA. Recordo que esta proposta já foi feita no passado...
posted by Miguel Noronha 2:01 da tarde
Comments:
Enviar um comentário