segunda-feira, março 31, 2003
Notas sobre "O antiamericanismo"
No DNA de 29/03 José Mário Silva (JMS) procura defender-se da acusação de antiamericanismo. Infundado diz ele. As acusações partem “uma feroz e cada vez mais activa opinião pública de direita”.
Não duvido que JMS admita a existência de uma opinião de direita. Mas fico com a impressão que acha esta se deve limitar a ouvir (ou ler) e calar.
Fala da “coligação que espezinhou, não o esqueçamos, a ONU e o direito internacional”. Tudo isto porque decidiu que após 12 anos e várias resoluções não podia continuar à espera que o Conselho de Segurança da ONU tomasse uma posição definitiva quanto ao Iraque, esse sim, que espezinhou a ONU, o direito Internacional, o seu povo e países vizinhos.
Mas, como sempre, o “culpado” é a América agora com a Grã-Bretanha e mais os 50 países que apoiam esta acção “unilateral”.
A França, que ameaçou usar o direito de veto para impedir qualquer resolução, não merece para JMS o adjectivo de “unilateral”. Nem quando tentou impor (em conjunto com a Alemanha) uma posição aos restante países da EU.
Somo acusados de ter “a ideia peregrina de que a insistência numa solução pacífica sob a égide das Nações Unidas, com os inspectores a continuarem o seu trabalho no terreno, equivaleria a uma defesa implícita do regime de Saddam Hussein (argumento tão débil que nem merece resposta)”
JMS pode achar o argumento débil mas a política seguida até à altura da intervenção não teve resultados palpáveis. Não transforma, imediatamente, os seus defensores em apoios do regime iraquiano. Mas também nada fez para o enfraquecer.
Não sei se JMS é na verdade antiamericano. Mas a tendência para ver em todas as acções do governo americano provas da sua má-fé é preocupante.
A Europa Ocidental que os americanos “«salvaram-nos» na II Guerra Mundial e «protegeram-nos», durante décadas, dos mísseis soviéticos” deve realmente a sua liberdade aos EUA. Não percebo a utilização das aspas. Que alternativas propunha JMS?
A política externa americana não é isenta de erros. Por vezes apoiou ditadores quando devia ter promovido a Democracia. No entanto é a Democracia que se promete apoiar no Iraque.
O texto acusa os EUA de terem interesse “ocultos” (diga-se monetários) nesta guerra. Não nego que o petróleo iraquiano seja apetecível. Mas como já vários artigos o demonstraram serão precisos vários contractos “chorudos” para amortizar o custo da guerra (que é suportada na sua parte de leão pelos EUA).
Nada é referido quanto aos negócios já existentes. Por acaso todos eles detidos por empresas dos países que mais se opuseram a esta guerra. Sobre ele não pende a acusação de apoiarem uma ditadura sanguinária. Os maus são sempre os EUA.
Não é preciso queimar bandeiras americanas ou emitir fatwas para se ser antiamericano. No caso de JMS o problema reside na sua eterna desconfiança quanto aos EUA. É em caso de dúvida optar sempre pela posição contrária. Os EUA estão sempre errados e “nós” sempre certos.
Nota final:
JMS acaba o seu artigo imitando a habitual rubrica “gosto/não gosto” do DNA. Fiquei com mais umas dúvidas (depois do “inefável):
Quando afirma “Nos EUA, o que me desagrada acima de tudo é o primado da economia, do dinheiro e do sucesso estará JMS a louvar o insucesso? Para além disso o sucesso dos EUA não ser restringe à Economia. Alguns exemplos podem ser achados no parágrafo do “gosto”.
Para acabar onde encontra JMS evidências da “atmosfera de forte vigilância policial e repressão” que segundo ele grassa nos EUA?
posted by Miguel Noronha 7:09 da tarde
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