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segunda-feira, agosto 04, 2003

O Chile de Allende

Agora que se preparam as comemorações do golpe que depôs Salvador Allende, um dos icones da esquerda mundial, vão chover artigos, documentários e tudo o resto a contar como o Chile pré-revolução era pouco menos que o céu na terra. A verdade é, no entanto, bastante diferente. O Claudio Tellez escreveu este texto há um meses e, a bem da verdade, resolvi recupera-lo.

O mundo vê Allende como o único socialista eleito democraticamente (mas com o voto do Congresso, que seja dito), como um homem justo e profundamente humanista, que foi traído e assassinado (versão que a própria esquerda desmente) pelos cruentos militares chilenos que estavam em conluio com a CIA e em nome dos interesses egoístas do imperialismo norteamericano.

Pois é, no Chile também tivemos os nossos "Ministros da Informação", só que em contraste com o patético Mohammed Said al-Sahaf, o resto do mundo engoliu as mentiras sem reclamar.

Durante o governo de Allende, grupos de extremistas tiveram liberdade de ação nos campos. Allende dizia, por um lado, que a Lei tinha que ser respeitada. Por outro lado, favorecia as expropriações ilegais. Segundo a Lei de Reforma Agrária, as propriedades aptas à aplicação dessa lei eram as que tinham mais de 80 hectares e que estavam em evidentes condições de abandono ou improdutividade.

Jorge Baraona Puelma, um ancião que trabalhava numa fazenda e que tinha dois filhos inválidos, precisou refugiar-se na casa da fazenda, que estava cercada por extremistas que não cessavam de ameaçá-lo com a "justiça revolucionária" caso não deixasse a propriedade. Outros trabalhadores já tinham sido baleados. Jorge Baraona Puelma estava se preparando para acatar as ordens dos socialistas quando sofreu um ataque cardíaco e morreu.

Perto de Pucón, o agricultor Rolando Matus Castillo foi assassinado pelos miristas. Ele tentou defender a sua propriedade de 20 hectares.

Em Nancagua, ao sul de Santiago, o capataz Domingo Soto foi assassinado por tentar ultrapassar uma barreira de ocupantes. Ele estava indo para casa, pois a sua mulher estava dando à luz.

José Liendo, um assassino mirista conhecido como "Comandante Pepe" espalhava o terror pelos campos. As ordens de prisão emitidas contra ele eram simplesmente "devolvidas" pelos agentes de Investigaciones (a polícia civil). Se algum funcionário público tentava agir em prol do cumprimento da lei, acabava destituído por "aferrar-se à legalidade burguesa". Um dos lemas do Movimiento Campesino Revolucionário, que era a "versão agrária" do MIR, era "TIERRA O MUERTE" - terra ou morte.

Em Rancagua, a Viña Santa Blanca foi tomada de assalto. O filho do proprietário, Gilberto González Gómez, tentou defender o pai - que estava sendo espancado. Esse gesto lhe custou a vida.

Em Fresia (sul do Chile), extremistas ocuparam um hospital e agrediram dois médicos, obrigando-os a modificarem um laudo de autópsia no qual estava escrito que a vítima morrera por causa de um traumatismo craniano. Os médicos tiveram que escrever "morte natural" no laudo. Tudo isso foi feito na presença do subdelegado de Governo. Além de espancarem os médicos, os extremistas ameaçaram com violentar as enfermeiras ou até as pacientes, caso não fossem obedecidos.

O medo e a incerteza fizeram com que a agricultura estancasse. As terras ocupadas, mesmo as que eram improdutivas, não passaram a produzir nas mãos dos "revolucionários". Muito pelo contrário, os prédios agrícolas foram utilizados como campos de treinamento de guerrilheiros. Os camponeses que se recusavam a aceitar a "nova ordem" eram afastados e os seus postos eram ocupados por militantes extremistas.

Cristóbal Sáenz possuía terras produtivas em Malleco. Ele chegou a ser o quarto maior produtor de trigo do mundo. No início do governo da UP, as suas terras produziam 35 mil quintais de trigo. Ele teve a fazenda expropriada pela Deforma Agrária da Unidade Popular e a produção diminuiu a 3200 quintais.

Talvez um dos melhores testemunhos sobre o governo de Salvador Allende seja o de Baltazar Castro, socialista e escritor. Ele possuía um vinhedo e exportava vinho para Cuba. Como era de se esperar, Baltazar Castro apoiou a candidatura de Allende e deu a ele o seu voto. Um certo dia, a sua propriedade foi atacada pelos extremistas. Por pouco não foram todos massacrados. São as palavras de Baltazar Castro: "O Chile foi destruído pela venalidade e mediocridade de Allende e seus colaboradores."

posted by Miguel Noronha 10:13 da manhã

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