O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

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quarta-feira, fevereiro 18, 2004

A Antologia do Disparate - pt II

Como prometido deixo aqui as declarações de Saramago proferidas em Quito (Equador). A notícia é da Agência Efe. Encontrei algumas notícias que referiam esta confereência mas nenhuma tão completa quanto a que agora publico. Presumo que amanhã seja notícia em tudo o que é orgão de infomação português.

Quito, 17 fev (EFE).- O Prêmio Nobel de Literatura de 1998, o português José Saramago, disse hoje, terça-feira, em Quito que a democracia é "uma falácia", uma "piada", e que esse sistema político não foi superado porque ninguém ainda encontrou outro.

Ele disse que em nome da democracia foram feitas muitas atrocidades no mundo e, nesse momento, referiu-se à intervenção dos Estados Unidos no Iraque.

"Os Estados Unidos estão muito conscientes de que dentro de 40 ou 50 anos terão dois concorrentes que vão se apresentar no cenário mundial como aspirantes ao domínio mundial ou, pelo menos, a compartilhar esse domínio. Serão eles a China e a Índia", asseverou Saramango, lembrando a intervenção dos Estados Unidos na maioria dos países do mundo.

"Quantos países têm bases militares nos EUA? Em quantos países os EUA não têm bases militares?", questionou o escritor em um encontro com leitores realizado na Casa da Cultura Equatoriana.

"Tudo se fez em nome da democracia", lamentou, antes de acrescentar que "se começassemos a dizer claramente, para que todo mundo escutasse, que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia, e uma mentira, talvez pudéssemos no entender melhor".

O literato afirmou que enquanto se escutar a palavra democracia sem a devida importância que o conceito tem, o mundo continuará tendo um dos "problemas políticos fundamentais de todos os tempos".

Saramago qualificou de "ingênuo" aqueles que dissem que a democracia é "o Governo do povo, para o povo e pelo povo". "Isso não tem nada a ver com a realidade", assentiu.

O Prêmio Nobel, que está Quito para receber a condecoração "Medalla Guayasamín de Unesco", também criticou o fato de haver pessoas no mundo que passam fome.

"Como é possível que o povo esteja morrendo de fome? A fome é a obscenidade máxima e todos nós deveríamos nos sentir insultados com o fato de que há pessoas com fome", ressaltou.

Saramago contou que, em sua reunião de hoje com líderes indígenas do Equador, lamentou o fato de eles terem uma história de 500 anos "de genocídio lento, de dor infinita, de sofrimento sem perdão".

"Não pensemos só o que os Estados Unidos querem que façamos; pensemos em nós", acrescentou ao ressaltar que não se pode permitir que "milhões e milhões de pessoas se encontrem sob as ordens de uma potência que tem uma visão mundial sem limites".

"Não podemos, somos cidadãos, somos pessoas, temos direitos", destacou.

Ele disse que os povos da América têm ainda mais direito a reclamar porque foram "infinitamente explorados".

Questionou o fato de o mundo ser "mais ignorante do que nunca" apesar de todas as facilidades que existem para evitar esse fato.

"O ensino não foi preparado para a massificação e o resultado é que, no fundo, o que importa é lançar ao mercado de trabalho jovens" que receberão salários muito baixos, manifestou.

Saramago explicou que, também dentro da chamada democracia, as pessoas são "livres, mas dentro de um limite muito bem definido".

posted by Miguel Noronha 8:24 da tarde

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"A society that does not recognize that each individual has values of his own which he is entitled to follow can have no respect for the dignity of the individual and cannot really know freedom."
F.A.Hayek

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