O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

O Intermitente
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sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Estupidez Radical

Artigo de Nivaldo Cordeiro.

Está nos jornais de hoje a seguinte declaração de Lula, por ocasião de sua visita aos flagelados das cheias: "Eu resolvi fazer essa visita aqui, em Juazeiro e Petrolina, para dizer que vocês, como outros tantos milhões de brasileiros, são vítimas do descaso que o poder público historicamente tem em relação ao povo pobre do nosso País". Essa declaração é a síntese de toda a imagem distorcida que os atuais governantes têm dos fatos, a partir da qual tomam as decisões as mais erradas, até mesmo bizarras, como esse tal de Fome Zero. Quem vê errado age errado, é evidente. É um caso flagrante de paralaxe, palavra usada aqui no sentido dado a ela por Olavo de Carvalho, ou seja, "o deslocamento entre o foco e o objeto". É pura confusão mental. E o pior é que ele fala como se governante não fosse, em grave crise de auto-identificação. Dá pena.

A afirmação é falsa porque: 1- Obviamente, quando chove demais não é culpa alguma de ninguém, sendo apenas um fato da natureza, com o qual a humanidade tem convivido desde a Origem; 2- Que, portanto, o poder público não pode ser responsabilizado por isso; 3- Que Lula é o "puder", logo está puxando para si uma responsabilidade que não é sua, sem se dar conta.

A afirmação é uma grande asneira. A questão é saber o que o motivou a prolatá-la. Ora, esse é o discurso de todos os políticos de esquerda, uma síntese de falsificação da realidade, de pieguice diante das desgraças coletivas, de alheamento de seu próprio papel, de ser governo e discursar como se oposição fosse, de tentar faturar votos e apoios nos momentos em que a dor é maior. É imoral e nojento. Não há nada de novidadeiro aqui, apenas a repetição ad nauseam da mesmice.

Está implícita nesse discurso também a crença notavelmente estúpida de que todos males advindos do Céu e da Terra têm origem na falta de "mais" governo. Choveu muito? Falta governo. Choveu pouco? Também. Há pobres? Aumente-se o governo. Qualquer situação de infortúnio individual ou coletivo é sempre remetida à ausência das patas monstruosas do Leviatã. Implícita também está a crença de que é possível eliminar as limitações da natureza humana, assumindo-se como possível a instalação do Paraíso na Terra por um ato de engenharia político-social. Rousseau falou grosso pela boca de Lula-lá, embora ele nunca venha saber disso.

É uma estupidez radical. Governo não elimina as desgraças naturais e nem aquelas derivadas da perversidade humana. Quando muito, pode policá-las em ações preventivas e repressivas. O que os crentes no governo expandido fazem é agregar a essas desgraças intrínsecas a desgraça fabricada pelas garras do leviatã. O discurso faz uma promessa, a ação pratica o seu oposto. Lula, todavia, não sabe disso. Falou asneiras e achou que fez um papel de estadista. Pobre Lula, pelo menos tem a favor de si a sua conhecida parcimônia de conhecimentos, crédito que não pode ser dado à nossa suposta elite intelectual, sua mentora e sua grande eleitora.

posted by Miguel Noronha 12:15 da tarde

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