O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

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segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Luta de Classes

Artigo de Rodrigo Constantino dos Santos

Karl Marx, sem nada entender de economia, diagnosticou uma luta de classes vigente em sua época. Existiria uma latente disputa entre capital e trabalho, e o primeiro levaria vantagem, se apropriando da mais valia, o excedente produzido pelo proletário. Marx ignorava coisas básicas em economia, como a lei de oferta e demanda. E foi com esta visão distorcida da realidade que ele incitou uma revolução do proletariado, que deveria se unir e tomar o poder à força e sangue. As conseqüências, nos países que tentaram colocar em prática seus "ensinamentos", foram justamente muito sangue, assim como a destruição do capital, e, por conseguinte, a do trabalhador. A miséria de todos, menos os donos do poder, foi o que restou.

Infelizmente Marx não viveu para ver os ganhos do trabalhador justo no país que mais valorizou o capital e a liberdade. Os Estados Unidos iriam experimentar um crescimento fantástico em sua economia, melhorando bastante a qualidade de vida da sua população. Os trabalhadores conquistaram, não através de revolução sangrenta, mas via a lógica do mercado, inúmeros direitos e regalias. O capital e o trabalho não são necessariamente separados, e atualmente os executivos, assim como diversos funcionários, são os verdadeiros donos das empresas americanas. Onde está a luta de classes?

Ela na verdade existe, mas paradoxalmente, Marx ajudou muito a aumentá-la. A verdadeira luta de classes ocorre entre os criadores de riqueza e os parasitas que tentam se apropriar dela. A riqueza de uma nação não é estática, nem garantida por recursos naturais pertencentes ao solo. Riqueza é algo construído, através de muito esforço e suor, pela união entre trabalho e capital. Alguma mente inovadora, uma alma empreendedora, decide se arriscar num novo negócio. Se dispor de capital próprio, contrata pessoas e juntos lutam para competir no mercado. Caso contrário, algum capitalista pode financiar o projeto, apostando no seu sucesso. Todos estão do mesmo lado, dependendo do sucesso da nova empresa para ganharem. O capitalista assume o risco com sua poupança, o trabalhador executa suas funções, todos visando o mesmo objetivo: o lucro. Reparem que não há coerção nesse empreendimento, mas sim consentimento de todas as partes envolvidas, sejam elas o capitalista, o idealista ou os trabalhadores.

Não existe exploração alguma, e o sucesso da empresa é o sucesso de todos envolvidos no processo, que de alguma forma se arriscaram e se esforçaram. Bem, na verdade nem todos! O único que não assumiu riscos, não entrou com o trabalho, não teve participação alguma na criação e idealização do projeto, mas ainda assim é o maior acionista, o que mais ganha com o sucesso da empresa, é o governo. Este se apropria, via impostos coercitivos, de um montante cada vez maior das empresas e funcionários, utilizando para isso o argumento falacioso de "justiça social", ou fazendo-nos crer que tamanha extorsão é necessária para o funcionamento da máquina burocrática estatal. O verdadeiro inimigo de capitalistas, empresários, trabalhadores da classe média, profissionais liberais, é o Estado. A luta de classes real se dá entre trabalhadores, incluindo aí os donos do capital que assumem riscos, e os parasitas sanguessugas, os donos do poder.

Enquanto a lógica de mercado dita as ações das empresas, com todos lutando em um mercado competitivo para agradar ao máximo os consumidores, os políticos vivem por uma lógica diferente, de maximização de votos. Para isso, milhares de privilégios são distribuídos, leis populistas são assinadas e cargos são leiloados. O Estado possui uma lógica natural de crescer de tamanho, os governantes lutam para se perpetuarem no poder, e a máquina estatal vai se transformando num verdadeiro Leviatã. A carga tributária aumenta, assim como o endividamento do governo, ou emissão de moeda, para poder bancar esta gastança descontrolada. As conseqüências são desemprego, miséria, recessão, inflação, tudo causado pela elite paquidérmica dos governantes. Com um povo ignorante, sem conhecimento destes fatos, a situação se agrava, entrando num círculo vicioso onde o desespero leva ao desejo de um salvador da pátria, dando mais poder ainda para o causador da miséria.

A propaganda política consegue ainda inverter a causalidade dos fatos, depositando a culpa naqueles que apenas queriam gerar riqueza e empregos, montar um negócio e lutar para sobreviver no mercado. Os empresários passam a ser o bode expiatório para os leigos, e mais governo passa a ser a solução proposta e defendida. Aumenta-se a burocracia, dificulta-se a formação de novas empresas, eleva-se a carga fiscal para alimentar mais bocas parasitárias, e gera-se mais miséria para o povo. Dentro da ciranda da felicidade, os poderosos ficam ricos, os "amigos do rei" também, sendo eles os empresários corruptos que se aliam ao governo onipresente ou os funcionários públicos privilegiados. As facções que garantem votos, como sindicatos fortes, são beneficiadas, em detrimento a todos os outros que trabalham e pagam impostos, sem dispor dos mesmos privilégios, com embalagens mais bonitas como "direitos adquiridos".

Os parasitas seqüestram os bens atuais dos trabalhadores, e ainda comprometem os ganhos futuros dos jovens que entram no mercado de trabalho, deixando como herança uma enorme conta a pagar. Um jovem de classe média que entra na disputa por uma vaga no mercado já carrega todo o peso de uma dívida pública avassaladora, uma carga tributária proibitiva, um rombo previdenciário gigante etc. Ele enfrenta uma dúvida cruel, entre lutar do lado dos abandonados, dos trabalhadores que geram riqueza e são explorados pelo governo, ou aderir à máquina, se transformar num funcionário público privilegiado, ficar do lado dos exploradores. Como as vantagens oferecidas na segunda opção são cada vez maiores, como culpar alguém por esta decisão racional? E assim o governo cresce sem parar.

O problema é que o número de parasitas aumenta exponencialmente em relação ao número de trabalhadores que geram riqueza, como fica evidente com o recente anúncio da mega contratação governamental pelo PT. A conta fica cada vez mais cara para sustentar as classes privilegiadas, e cada vez menos gente contribui no pagamento. A carga tributária já chega a 40% da riqueza gerada no país, pesando sobre os ombros da classe média. Sem falar da ineficiência dos serviços prestados pelo governo, forçando mais gastos ainda por parte do trabalhador. Projetando a manutenção desta tendência de crescimento da classe parasitária privilegiada em relação aos que geram a riqueza, não precisa ser economista para ficar preocupado. Essa luta de classes pode não acabar bem. A sorte dos governantes é que a paciência do brasileiro parece infinita, assim como a ignorância. A classe média caminha rumo à sua extinção, mas aplaude o aumento do Estado, justamente aquele que prepara seu aniquilamento. São como moscas diante daquela luz hipnotizante que as atrai, apenas para fritá-las em seguida.

posted by Miguel Noronha 12:27 da tarde

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