sábado, fevereiro 07, 2004
ZONA EURO
A crónica de Alberto Gonçalves no Correio da Manhã.
Na sequência das banalidades do fim-de-semana, o dr. Arnaut convocou uma reunião de emergência para discutir futebol. No final, entre uns resmungos do major Loureiro, fomos informados de que o Governo deseja, além de identificar os adeptos violentos, ver regulamentado o comportamento dos "agentes" da modalidade.
Deve ser da época. Há exactamente um ano, o dr. Arnaut já sugeria um "código de conduta" para os responsáveis do futebol. Na altura, o senhor ministro lembrava que o dito código deveria ser, ao invés de imposto, "sentido pelas partes". Como a evidência tem demonstrado, as partes não o sentiram por aí além, donde a opção por medidas drásticas, agora que o Euro?2004 se aproxima e, aparentemente, a ameaça de uma rotunda vergonha surgiu nas cabeças dos conscienciosos políticos.
Tirando os "hooligans", que se controlam com Polícia e não com códigos, nem o nexo entre o dirigismo desportivo e o "Euro" é visível, nem o "Euro" é uma ameaça provável. Em primeiro lugar, e com a "SuperLiga" (!) de folga, custa a crer que os nossos dirigentes e treinadores exibam o talento para o baixo insulto junto das comitivas estrangeiras. Ninguém os conhece, ninguém percebe a língua e, ademais, não consta que os srs. Costa ou Cunha tenham, na Rússia ou na Grécia, um séquito de tontos a quem deleitar.
Em segundo lugar, e embora seja razoável a probabilidade da selecção nacional sair do torneio ao soco e à cabeçada, semelhante táctica tem sido usada amiúde pela "equipa de todos nós" (salvo seja) em tudo o que é campeonato internacional, e constitui, hoje, uma imagem de marca que o mundo se habituou a esperar.
A "preocupação" da classe política com o Euro 2004 não é mesmo para levar a sério. Mas, ao poder, dá imenso jeito confundir a eterna pocilga a que se chama "futebol português" com um solitário evento, que dura três semanas: se a coisa nem correr mal, governantes e afins farão conferências, munidos de inúmeras estatísticas, destinadas a comover os pasmados com a "organização modelar", o "exemplo de civismo" e o "momento regenerador".
Depois da pausa para o "Euro", bem, depois o forrobodó prosseguirá na imaculada paz ? e com vergonhas dessas nós e os políticos podemos bem. Como não? Simultaneamente à folia de Guimarães e Alvalade, um deputado considerou uma ministra "inimputável" e o porta-voz do PP alcunhou o dr. Soares de "criminoso". Não terá sido uma catástrofe, mas se é esta gente que deseja moderar os excessos do futebol, podemos prognosticar um jogo equilibrado.
posted by Miguel Noronha 4:14 da tarde
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