O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

O Intermitente
(So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

quinta-feira, abril 22, 2004

25 de Abril

Artigo de Francisco Sarsfield Cabral no Diario de Notícias.

Movidos inicialmente pelos prejuízos profissionais e pessoais causados por uma guerra colonial sem saída, militares desencadearam há trinta anos um golpe que viria a trazer a democracia ao País. Por isso lhes devemos estar gratos. A democracia não veio logo: houve uma revolução que desagregou o Estado e abriu uma feroz luta política, enquanto se multiplicavam as mais loucas expectativas. Durante quase dois anos era incerto se Portugal acabaria numa nova ditadura, agora de esquerda, num regime militar terceiro-mundista ou numa democracia europeia. Prevaleceu felizmente esta última, que seria consolidada com a adesão à CEE em 1986 - uma sábia aposta política de Mário Soares dez anos antes. Mas a democracia teve de ultrapassar sérios riscos, como as crises financeiras e a queda dos salários reais entre 1975 e 1985 (com excepção de 1980).

Desapareceram, assim, a PIDE-DGS, a censura, as limitações às liberdades cívicas, sindicais e políticas. É isto que devemos comemorar - e não é pouco. Quanto ao resto, não há grandes motivos para festejo. A economia portuguesa teve o seu período de ouro nos anos anteriores a 1974. Nunca mais voltou o crescimento dessa altura - porque o mundo entretanto mudou, mas também por razões internas. Uma revolução tem sempre custos económicos e a nossa nacionalizou empresas em larga escala para instaurar o «socialismo».

A ilusão do império colonial desvaneceu-se de maneira trágica para africanos e europeus, sobretudo em Angola. E os portugueses continuam a ser o que sempre foram: incultos, desorganizados, pobres, complexados e poetas.

Nem mesmo uma revolução muda um povo. Mas vivemos agora em liberdade e tornou-se absurda a hipótese de um golpe contra a democracia.

posted by Miguel Noronha 3:29 da tarde

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"A society that does not recognize that each individual has values of his own which he is entitled to follow can have no respect for the dignity of the individual and cannot really know freedom."
F.A.Hayek

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