quinta-feira, abril 01, 2004
A Desculpa
Artigo de Francisco Sarsfield Cabral no DN.
Afinal, a tímida recuperação económica europeia voltou a encravar. Na Alemanha, que representa um terço da zona euro, depois de alguns sinais positivos caiu a confiança dos empresários e dos consumidores. Por isso e porque a economia espanhola poderá ressentir-se das últimas eleições, a retoma em Portugal vai continuar adiada.
Com o decepcionante crescimento económico da zona euro regressou a hipótese de descida dos juros do Banco Central Europeu. Apesar de os juros estarem em mínimos históricos, é possível, embora não provável, que hoje mesmo o BCE baixe a sua taxa central. Ou que a desça daqui a mais algumas semanas. Só que não virá daí o milagre que alguns parecem esperar.
O que tem a taxa de juro a ver com os atrasos na concretização da chamada agenda de Lisboa? Há quatro anos, em Lisboa, o Conselho Europeu prometeu um vasto leque de medidas para tornar a economia europeia na mais competitiva do mundo. Entretanto, a UE perdeu mais terreno para a economia americana. Os governos, e em particular o de Berlim, mostram-se incapazes de levar por diante reformas indispensáveis, do mercado de trabalho à segurança social. E os proteccionismos nacionais continuam a travar a eficácia do mercado único europeu. Vejam-se as resistências da França e da Alemanha à internacionalização da empresa farmacêutica Aventis e do Deutsche Bank, respectivamente (resistências que muitos gostariam de ver entre nós, como se os erros dos outros merecessem ser copiados). Baixar os juros poderá ajudar alguma coisa, mas o essencial depende da coragem dos governos. É cómodo o bode expiatório da taxa de juro, da responsabilidade do BCE, para desculpar a incapacidade dos políticos nas tarefas que lhes competem.
posted by Miguel Noronha 2:32 da tarde
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