sexta-feira, abril 02, 2004
A Nova Geração Árabe
Excertos de artigo de Esther Mucznik no Público.
O que importa é perceber que para uma larga maioria de jovens da classe média (os mesmos que poderão ter um papel de liderança nas sociedades do mundo árabe) não é a revolução islâmica que os faz sonhar, mas sim a liberdade. E aquilo que os aflige é a descrença total e absoluta nos regimes ditatoriais, corruptos e retrógrados que os governam. Por isso não é de admirar que um desses jovens, inquirido sobre o que faria se lhe dessem um passaporte americano, tenha respondido: "Preferia que não fosse a América, mas claro que aceitaria. Quem não aceitaria?
(...)
É trágico que hoje, no mundo ocidental, uma parte da opinião pública não perceba que solidarizar-se com o mundo árabe é solidarizar-se em primeiro lugar com o impulso de liberdade, de emancipação e anseio de democracia, e não com o que há de mais retrógrado, atrasado e fanático. A incrível fotografia publicada no jornal "Expresso" de duas jovens "mascaradas" de bombistas muçulmanas com véu e um cinto de explosivos à cintura, na manifestação pela paz de sábado 20 de Março, em Lisboa - certamente em solidariedade ou pelo menos em compreensiva indulgência com o terrorismo suicida -, revela não apenas uma intolerável ligeireza, mas sobretudo uma total e inadmissível cegueira perante o que está em jogo no Médio Oriente e no mundo actual.
Só um Médio Oriente livre, democrático e próspero poderá acabar com o terrorismo e conhecer a paz. Contra esse novo Médio Oriente o fundamentalismo islâmico não cessará nunca de lutar, porque ele significa o seu fim. Mas a alteração do "statu quo" representa também uma ameaça para os governos corruptos que temem pelo seu próprio poder.
(...)
Indiferente a esta realidade, a Europa prefere o "statu quo" que mais não faz do que favorecer o terrorismo. E adiar a resolução do conflito israelo-palestiniano, porque, contrariamente às furiosas invectivas de muitos dos nossos oráculos, demasiado rápidos a encontrar culpados, o conflito israelo-palestiniano só terá a sua resolução definitiva num Médio Oriente livre e democrático. Nesse sentido, não é inútil ouvir o editorialista já citado denunciar "a hipocrisia dos regimes árabes que justificam a sua recusa das reformas preconizadas pelos americanos com o argumento que elas não resolvem o conflito israelo-palestiniano, como se esses regimes estivessem prontos a enviar as suas tropas e o seu arsenal militar para libertar os territórios [palestinianos]... Esses regimes utilizam a causa palestiniana para se manter no poder..."
A principal ameaça à paz no mundo hoje é a ausência de liberdade, de democracia e de bem- estar no Médio Oriente. É nesse sentido que o Ocidente devia trabalhar, não impondo os seus modelos, mas apoiando-se nessa nova geração árabe sedenta de uma nova ordem nos seus países, capaz de um dia trazer a paz, a justiça e a prosperidade
posted by Miguel Noronha 12:56 da tarde
Comments:
Enviar um comentário