O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

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segunda-feira, maio 24, 2004

Teorias da Conspiração

Excerto do artigo de José Pedro Zúquete no Público.

Os atentados do 11 de Setembro, momento traumático e novo na história, como não podia deixar de ser, deram origem a toda uma vaga conspiratória, destinada a tentar compreender aquilo que parecia incompreensível. Esta vaga foi amplificada pela Internet, o oráculo anárquico da "mão oculta.". Antes, escrevia-se um panfleto. Agora, abre-se uma "webpage" ou cria-se um "blog". Um intelectual francês de seu nome Thierry Meyssan publicou mesmo um livro onde defendeu a tese de que nenhum avião caiu no Pentágono, mas que foi o governo americano, instrumento de uma conspiração de extrema-direita, que ordenou mísseis contra o Pentágono de forma a justificar a primazia do lobby "militar-industrial". O livro vendeu milhares de cópias e tornou-se um best seller em França. E há mais. Um americano célebre residente na Europa, Gore Vidal, com a concordância de muitos, insinuou que o governo americano tinha sido cúmplice do ataque terrorista de forma a justificar a invasão do Afeganistão e a construção de um oleoduto na região.

Mas a conspiração favorecida por muitos é aquela que liga os interesses económicos da família Bush aos sauditas e à família Bin Laden. Um dos modernos profetas da lógica da conspiração, o activista Michael Moore, preparou mesmo um "documentário" dedicado à trama. O facto de poucos dias após o ataque terrorista muitos sauditas residentes na América, entre os quais familiares de Bin Laden, empresários, estudantes terem sido autorizados a partir para o seu país é a prova para muitos da cabala. Pouco importa que a Comissão do 11 de Setembro tenha declarado recentemente que tudo foi feito com aprovação do FBI porque os sauditas, sobretudo aqueles que tinham no nome "Bin Laden", temiam pela sua segurança. Ou que Osama está afastado da família há anos (ele é o mais novo de 24 irmãos!) e constitui motivo de embaraço para todos. Ou ainda que o "sinistro" Grupo Carlyle, na base do conluio Bush-Sauditas-Bin Ladens, tenha como um dos principais investidores George Soros, inimigo declarado de Bush e que tem como missão, nas suas palavras, "retirar Bush da Casa Branca."

Mas nada disto interessa. A conspiração não permite estas "subtilezas" da lógica porque a conspiração cria "a sua" própria lógica. Ou seja, o mecanismo demolidor, hipnotizante e monolítico do mito. Desde sempre. Realmente só há uma coisa mais forte do que uma teoria da conspiração: é o nosso desejo de acreditarmos numa.


posted by Miguel Noronha 12:32 da tarde

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