O Intermitente<br> (So long, farewell, auf weidersehen, good-bye)

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segunda-feira, maio 17, 2004

Tudo Mal

Artigo de Francisco Sarsfield Cabral no DN:

Quase dois terços dos rendimentos dos agricultores dos países da OCDE (ou seja, dos países desenvolvidos) vêm de ajudas do Estado. Há excepções, como a Austrália e a Nova Zelândia. Mas na maioria dos países ricos a agricultura passou a ser, sobretudo, uma caça ao subsídio directo e indirecto. O número de agricultores diminuiu, aliviando a factura dessa ajuda para o contribuinte. E o consumidor dos países ricos tolera os preços agrícolas altos, pois gasta hoje em alimentos uma parcela reduzida do seu orçamento.

Tudo bem, então? Não, tudo mal. Primeiro, porque apenas um terço do dinheiro gasto teoricamente em subvencionar a agricultura acaba nos bolsos dos agricultores - o grosso da ajuda é comido pelos intermediários comerciais. Depois, porque os pequenos agricultores pouco beneficiam dessas ajudas. Mais grave ainda, o proteccionismo agrícola dos ricos liquida a agricultura dos países pobres. Uma libra (de peso) de açúcar custa 25 cêntimos produzir na UE, contra 8 na Índia e 4 no Brasil. Mas a UE subsidia brutalmente a sua produção de açúcar, viabilizando-a à custa dos produtores do mundo pobre. Coisa semelhante acontece com o algodão nos Estados Unidos ou com o arroz no Japão. E na carne, nos lacticínios, nos vegetais, nas frutas, etc.

Os comissários europeus da agricultura, Franz Fischler, e do comércio internacional, Pascal Lamy (que é francês e foi o braço-direito de Delors), propuseram que a UE suspendesse os subsídios às exportações agrícolas, se os seus parceiros comerciais fizessem o mesmo. Tais subsídios representam apenas 6 por cento das ajudas aos agricultores da UE. Pois logo a França se opôs. O que não impede o Governo francês de se apresentar como o amigo dos países pobres.


posted by Miguel Noronha 3:01 da tarde

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