sábado, dezembro 06, 2003
Ainda Bem!
O Metamorfopsia informa os seus leitores que ainda não foi desta que desapareceu de vez. Felizmente.
O Catalaxia é que nunca mais se decide a voltar.
posted by Miguel Noronha 8:20 da tarde
Revisão Constitucional
Artigo de José Manuel Fernandes.
A discussão sobre a abundância e profundidade das revisões constitucionais ganharia algo se comparássemos a Constituição portuguesa de 1976 com uma outra aprovada 189 anos antes: a Constituição americana.
Adoptada em 17 de Setembro de 1787, aquela que é a mais antiga constituição democrática em vigor tem apenas sete artigos, um total de 4609 palavras e um pouco mais de 22 mil caracteres. Em contrapartida, a actual Constituição da República Portuguesa tem 299 artigos, mais de 32 mil palavras e quase 179 mil caracteres.
Nos 215 anos que já leva de vida, a Constituição americana sofreu um total de 27 emendas, dez das quais foram feitas logo na primeira sessão do Congresso e aprovadas em 1791. As três últimas emendas foram feitas respectivamente em 1967, 1971 e 1992. Em todo o século XX só foram feitas 12 (doze) emendas.
Como é possível tal economia de palavras, artigos e emendas? E como foi possível que um texto escrito há mais de dois séculos continue válido e tenha permitido acomodar radicais mudanças sociais, económicas, geográficas, demográficas e políticas? Porque a Constituição americana é curta, elegante, não programática e, estabelecidas as regras de funcionamento do Estado, deixa grande liberdade de acção para os legisladores e margem de interpretação para os juízes.
(...)
Os criadores da nossa Constituição seguiram outro caminho. Preferiram pôr lá tudo. E, ao fazerem-no, não só a carregaram ideologicamente como a tornaram tão normativa que, para a mais pequena coisa, é necessário revê-la. Agora, por exemplo, quer-se acabar com a Alta Autoridade para a Comunicação Social; logo tem de se rever a Constituição. Como foi necessário revê-la para acabar com a irreversibilidade das nacionalizações. Ou para permitir que surgissem televisões privadas.
Mas pior do que os criadores fizeram os sucessivos revisores do texto fundamental, que lhe têm acrescentado complicações em lugar de a simplificar. Isto é, das revisões constitucionais tem resultado quase sempre uma Constituição ainda mais longa e complexa.
A boa solução era, provavelmente, escrever de novo a Constituição, proposta que certamente levará à apoplexia os nossos constitucionalistas e todos os que adoram leis detalhadas julgando que assim amarram as mãos aos nossos juízes e à sua (frequente) falta de senso. Mas tal reforma radical não se fará. Aliás não se fará quase revisão nenhuma, o que talvez até seja a melhor solução
posted by Miguel Noronha 1:37 da tarde
Subsídios à Cultura pt II
Ainda relativamente a este assunto aconselho a leitura do artigo sobre os subídios ao cinema n'O Independente de ontem (que o Homem a Dias já fez referência).´
É interessante verificar a quantidade e o custo das "obras primas" produzidas nos ultimos anos à custa dos contribuintes. Igualmente interessante é comparar o montante dos subsídios com o número de espectadores. Mais interessante ainda é verificar o favorecimento de algumas produtoras.
posted by Miguel Noronha 11:07 da manhã
Subsídios à Cultura
Resposta ao post .UMA CARTA DO QUASE HOMÓNIMO publicado no BdE.
Como liberal queria aproveitar para esclarecer que sou contra toda a especie de subsídios. Isto inclui, obviamente os culturais.
A existência de subsídios estatais à cultura implica, antes de mais, um favorecimento por parte do Estado a certos tipos de cultura e a certos criadores culturais. Julgo que mesmo para os defensores do sistema de subsídios esta constantação seja evidente.
Outra constatação provavelmente menos evidente para todos é que os subsídios à produção empolam artificialmente os custos de produção.
Presumo que na sua génese os subsídios à produção tenham sido visto como uma forma de estimular a procura de eventos/produtos culturais através da criação de oferta. Esquecem-se que o público não costuma consumir (desculpem a linguagem economicista) produtos que não deseja. A comprovação pode ser feita pelas diminutas audiências que têm a maior parte dos eventos culturais independentemente do constante aumento do montante dos subsídios.
Para terminatr estou em crer que o fim dos subsídios culturais não determinará o fim da cultura.
Aqui fica o depoimento de um liberal ignorante e com medo da cultura
posted by Miguel Noronha 10:42 da manhã
sexta-feira, dezembro 05, 2003
Irão
Iran forces quell massive uprising
Protesters gunned down as people resist Revolutionary Guard assault
Iranian Supreme Revolutionary Guard forces under the Ayatollah Ali Khamenei reportedly killed a 10-year-old boy in the country's minority Baloch region yesterday, touching off a massive uprising against the Islamic regime countered by a deadly crackdown and imposition of martial law, according to sources on the scene.
Amid burning banks, stores and government offices, at least 30 Baloch protesters are dead and 80 injured in the southeastern city of Saravan near the Pakistani border
Espero por desenvolvimentos nos restante media assim como condenações por parte das autoridades morais das nações ocidentais. O Presidente Jorge Sampaio também se devia pronunciar sobre este massacre.
Tenho, no entanto, poucas esperanças que tal suceda. Desta vez não há soldados americanos envolvidos...
posted by Miguel Noronha 8:14 da tarde
Brisa Revivalista
O bilhete que retirei na portagem, quando entrei na autoestrada, dizia "Visite a Expo 98".
posted by Miguel Noronha 3:43 da tarde
Are the Saudis funding schools devoted to fomenting radical Islamic ideology?
the King Fahd Academy in Bonn, provoked an uproar two months ago when German television reporters infiltrated its classrooms and videotaped a teacher inciting a holy war ?in the name of Allah? and advocating martial-arts training?including the use of crossbows?for young students. Local German officials announced their intention to shut the school down after receiving intelligence reports that Muslim militants from throughout Germany?some of them with suspected terrorist connections?were flocking to the area to send their children to the academy.
(...)
The German experience underscores a broader concern among U.S. and other Western intelligence officials about the role that Saudi-funded mosques and schools are playing in the fomenting of radical Islamic ideology. The Saudi government pumps tens of millions of dollars every year into such institutions around the world?including Islamic centers, mosques and schools named for King Fahd in Los Angeles, Moscow, Edinburgh and Malaga, Spain. These schools are known for spreading Wahhabism?the puritanical, hard-core brand of Islam that is the official Saudi state religion and, in its more extreme versions, can be difficult to distinguish from the radical Islamic thought preached by Osama bin Laden and his followers, some intelligence officials say
Já no seu ultimo livro, Bernard Lewis, tinha expressado a mesma preocupação. Devido aos seus vastos recursos, proporcionados pelo petróleo, a dinastia saudita é a principal patrocinadora de instituições islâmicas fora do mundo árabe sendo a doutrina professada nessas instituições o Wahhabismo. Dessa forma uma doutrina, à partida, marginal (e nalguns aspectos herética) no mundo árabe é, presentemente, a mais difundida.
Ainda acerca deste assunto aconselho a leitura de um artigo publicado no MEMRI acerca dos conteudos "menos próprios" da página do Islamic Affairs Department da Embaixada da Arábia Saudita em Washington, D.C.
posted by Miguel Noronha 12:33 da tarde
Bloco Promete Alternativa a Guterres
Se António Guterres avançar com uma candidatura às presidenciais de 2006, o Bloco de Esquerda (BE) terá um candidato autónomo. A garantia é dada por Francisco Louçã. Em declarações ao DN, antecipando a intervenção no comício de ontem à noite, em Lisboa, (que decorreu já após o fecho desta edição), o dirigente bloquista manifestou-se contra a eventual candidatura do ex-primeiro-ministro socialista à Presidência da República.
«A esquerda já perdeu com António Guterres, não vejo razões para continuar a perder», defende Louçã, sublinhando que aquela será uma «candidatura fragilizada» e uma «resposta fraca» à «candidatura virtual de Santana Lopes», que se afigura à direita. Por isso, o BE avançará com um «candidato autónomo», do «campo político» do Bloco.
Com hipóteses no "campo político do Bloco", de momento, só me lembro da Joana Amaral Dias...
posted by Miguel Noronha 10:35 da manhã
União Europeia
Uma notícia do EU Observer deixa antever um possível aumento das contribuições dos Estados Membros para o orçamento comunitário.
[T]he Commission is keen to raise the current level of "own resources". Currently, the EU is funded with 1.02 percent of the gross national product (GNP) of Member States.
It believes this is insufficient for the enlarged EU and wants to move closer to the agreed ceiling of 1.27 percent of GNP.
Quanto tempo mais vamos continuar a "alimentar" a, sempre crescente, máquina administrativa comunitária e os absurdos programas de subsídios da UE? Relembro que, neste momento, metade do orçamento comunitário é absorvido pela PAC.
posted by Miguel Noronha 9:33 da manhã
quinta-feira, dezembro 04, 2003
Don't Cry For Me...
Aproveitando o comentário do Luciano ao meu ultimo post aproveito para sugerir a leitura do livro "The Sorrows of Carmencita" de Mauricio Rojas (vice-presidente da Timbro) onde este mostra como uma mistura explosiva de proteccionismo, dirigismo económico, controlo de capitais e descontrolo das contas públicas (dos governos estaduais) levou ao descalabro económico.
Já agora sugiro que enviem uma cópia ao comissário Pedro Solbes...
posted by Miguel Noronha 5:08 da tarde
De Mal a Pior
Para evitar que a continua apreciação do Euro face ao Dólar a Comissão encomendou um estudo sobre a possibilidade de impor restrições à entrada de capitais.
Por enquanto dizem tratar-se apenas de um estudo...
posted by Miguel Noronha 3:18 da tarde
The Legacy of Milton and Rose Friedman's "Free to Choose"
Podem consultar os papers apresentados nesta conferência (que decorreu em Outubro) aqui.
posted by Miguel Noronha 2:12 da tarde
Esta Não é a Minha Europa
Não obstante o fracasso da imposição do PEC na zona Euro (como ficou aprovado no ultimo Ecofin) a comissão prepara mais propostas conducentes à centralzação das políticas económica e fiscal. Conforme declarou Romano Prodi:
He said it was not enough to "tinker" with the rules of the stability and growth pact - the rules underpinning the euro - "we must have an in-depth debate on fiscal policy in the wider framework of the general monitoring and coordination of economic policy".
Por outro lado, aproveitando a (in)decisão do mesmo Ecofin, pretende e seguindo uma lógica keynesiana, pretende que o objectivo de contenção dos défices público seja abandona favorecendo uma política intervencionista por parte dos Estados.
"We should be more proactive in using the economic policy guidelines and the Growth and Stability Pact together as instruments to coordinate economic policy in a way that will underpin the economic and monetary union and bring us closer to achieving our Lisbon objectives", said the Commission President.
Para qualquer não-keynesiano, é claro, que esta alteração de política colocar-nos-à cada vez mais longe dos supracitados objectivos e provocará um retorno da inflação.
posted by Miguel Noronha 10:58 da manhã
Leitura Recomendada
"Unilatelismo" uma crónica de Vasco Pulido Valente recuperada por Ilídio Martins no Esmaltes e Jóias.
Para lá da hipocrisia oficial, a grande consequência política do ataque de Ben Laden à América foi levar o antiamericanismo a um novo cume. O antiamericanismo não uniu só a esquerda e a direita - uniu o mundo. Não há pateta que não se dê ao trabalho de chamar a Bush imbecil, ignorante e vácuo; e não há «teórico» que não disserte por aí sobre a malvadez do «império». A mortandade do 11 de Setembro libertou um ressentimento universal e a vítima foi promovida a carrasco.
posted by Miguel Noronha 8:39 da manhã
quarta-feira, dezembro 03, 2003
Constituição Europeia
Depois de um breve interludio o nucleo federalista da UE volta a ameaçar os países que optem pela rejeição do projecto constitucional.
O papel de porta-voz coube, desta vez, ao Presidente da Comissão Romano Prodi.
European Commission President Romano Prodi has told the Irish Times that when it comes to ratification of the EU Constitution, one member state cannot be allowed to sink the treaty.
In an interview with the Irish daily, Mr Prodi said "maybe you should have a long waiting period to allow us to find a political solution to solve the problem. We won't say, 'You voted No, now get out', but we have to find a solution that will not permit one country to stop all the other 24. It is clear. This is obvious. It's simply common sense".
posted by Miguel Noronha 7:32 da tarde
Escândalos
O Diário Digital noticia que uma delegação do Partido Comunista Chinês (PCC) visita, esta semana, o nosso país a convite do PSD.
Para o repórter o escândalo consiste no "esquecimento" a que são votados os comunistas nacionaios (não está previsto qualquer encontro). Ainda para mais depois dos rasgados elogios que Álvaro Cunhal lhes fez enquanto farois do comunismo no mundo.
Para mim o verdadeiro escândalo consiste no convite do PSD, um partido democrático, ao PCC um partido ditatorial. Não obstante alguma abertura económica este continuar a negar direitos políticos à maior parte da população chinesa, a negar-lhes Direitos Humanos e a suportar o regime ditatorial da Coreia do Norte.
O PSD parece também, convenientemente, esquecer-se das recentes ameaças da China a Taiwan.
O PSD precisa escolher melhor os seus "amigos". Não basta enunciar princípios. Há que agir em conformidade.
posted by Miguel Noronha 3:05 da tarde
(A Verdadeira) Autonomia Universitária
Um artigo no Daily Telegraph expõe as diferenças entre as universidades inglesas e americanas. Uma comparação, em grande medida, aplicável a Portugal.
What is at stake is not so much the principle of university education being free to all. In practice, that disappeared long ago. The question is: can higher education continue to be a government monopoly? Is it economically, or politically, viable for the universities to have their financing, employment and admissions arrangements determined by politicians?
(...)
The government provides and the government decides. Until very recently, when the well finally did run dry, universities ran on the uneconomic presumption that because what they did was inherently good, government should give them - pretty much unquestioningly - whatever they felt that they needed.
(...)
Because their income comes from government, they spend much of it in the systematically wasteful ways which are endemic in the public services.
When I arrived in this country as a post-graduate student, I was shocked to discover that my British university employed an army of (unionised) menial staff to do jobs that would have been filled on my American campus by students. At American universities, every job that does not require a specialist qualification - in the library, in the canteen, in the halls of residence - is taken by a student who is "working his way through" his education. This not only helps the student, but also saves the university a fortune in pay to cooking, cleaning and ancillary staff.
There is, in fact, a huge diversity of ways to pay for your education in the United States. I went to Berkeley, a state university, where I paid quite low subsidised fees, but had to work off-campus to pay my maintenance costs.
(...)
Harvard famously undertakes to provide funding for any student good enough to be accepted who cannot afford to pay. Thus the rich kids subsidise the poor kids - as equitable a system of wealth and privilege redistribution as you could want, and it has nothing to do with government.
(...)
The real waste in higher education is not on lecturers and research fellows. It is on overpriced equipment, feather-bedded administrative offices, and enormous numbers of manual workers doing low-grade work that could be carried out by undergraduates.
I lost count, during my teaching years, of the ludicrous overspending on materials purchased from suppliers who saw the state-subsidised sector as a cash-cow.
What is wrong with top-up fees (*) is that they are just that: they will come on top of a subsidy that does not permit universities any serious freedom to rethink their economic or administrative practices. It allows government to interfere in decisions about what proportion of students should be admitted from which backgrounds, the balance between teaching and research, and which courses are fit subjects for study.
(*) Propinas diferenciadas.
posted by Miguel Noronha 2:25 da tarde
A Difícil Hora da Verdade
Artigo de Manuel Queiró no Público.
A "facada nas costas" que a França e a Alemanha deram ao Pacto de Estabilidade e Crescimento vai-nos obrigar a um choque com a verdade, tanto no plano interno como nas negociações de Roma. Em casa deixámos de ter um álibi para assumirmos a nossa própria disciplina, e na Europa não podemos mais ignorar a existência de um directório, que o eixo franco-alemão quer sem disfarces constituir. Tanto numa matéria como noutra ficam as opções mais difíceis de assumir, mas o combate político fica seguramente mais transparente.
Sobre o pacto e o seu provável fim já se disse de tudo um pouco, em defesa de quase tudo. Pelo meu lado, impressionou-me sempre o desvio sistemático do debate que a sua existência provocava. Da necessidade de uma política de contenção de despesas falou-se muitas vezes como se de uma obrigação internacional se tratasse. Como se os portugueses só aceitassem uma política difícil por via da ameaça externa. Se por uma parte isso serviu a muita gente para interiorizar a inevitabilidade de uma política, por outra deu azo a um discurso oposicionista fácil e demagógico. Em vez de uma crítica aberta à contenção de despesas, o que se atacava era a submissão a metas que nos eram impostas.
posted by Miguel Noronha 11:23 da manhã
Fantasmas do Passado (via The CounterRevolutionary)
Às vezes covém lembrar que certos acontecimentos presentes são extraordinariamente similares a outros ocorridos no passado:
É claro que a melhor solução face ao descontentamento generalizado da população alemã no pós-guerra a melhor solução seria uma retirada das forças aliadas. Ou não?
posted by Miguel Noronha 9:23 da manhã
terça-feira, dezembro 02, 2003
Monstrengos
Mais um excelente artigo de João Pereira Coutinho:
PORTUGAL perdeu a organização do America's Cup para Valência e eu, de joelhos, ergui as mãos para o Céu. Obrigado, Senhor! Desta vez, não haverá qualquer tipo de delírio até 2007. Pena que a UEFA não tenha agido com tamanha lucidez. Os resultados estão à vista: faz-se um sorteio para o Campeonato da Europa, arranjam-se quatro grupos, dezasseis equipas por grupo e distribui-se a coisa por... dez estádios nacionais. Dez. Não foram quatro. Não foram cinco. Não foram seis. Foram dez. Os casos mais demenciais encontram-se no Algarve (onde serão disputados três jogos - repito: três jogos para um investimento de 30 milhões de euros), em Leiria (20 milhões, 2 jogos), em Coimbra (20 milhões, 2 jogos), em Guimarães (25 milhões, 2 jogos), em Braga (90 milhões, 2 jogos) e em Aveiro (60 milhões, 2 jogos). No final da coisa, muito obrigado, até à próxima, aqui tem a chave - e algumas câmaras municipais já avisaram que não tencionam sustentar os mostrengos. Serão vinte dias de festa - e, pelo menos, cinco estádios perfeitamente inúteis para o resto da vida, obviamente suportados pelo bolso do trabalhador comum. O Campeonato da Europa de Futebol, na sua trágica megalomania, é o retrato perfeito da insanidade em que vivemos.
O JPC esqueceu-se de referir que vamos ter uma megalómana ligação de alta velocidade para fazer a ligação entre os estádios fantasma.
É claro que para alguns (infelizmente muitos) tudo isto é positivo. Há até quem lhe chame investimento. Os gastos transforma-se-ão no crescimento económico que necessitamos para "sair da crise" e apanhar o "pelotão da frente".
Nestas "brilhantes" análises os nossos pensadores esquecem-se frequentemente uma questão fundamental Quem irá pagar (e manter) estas megalomanias que só irão servir para aparecer como pano de fundo, nos tempos de antena, em campanhas eleitorais?
posted by Miguel Noronha 5:08 da tarde
As Vítimas do Comunismo
The 20th century will be remembered as the bloodiest century in history. A major reason was the 1917 establishment by Vladimir Lenin and his Bolsheviks of a Marxist regime in Russia. The Soviet Union was the epicenter of a communist empire that, until its disintegration in 1991, spread doctrines of economic collectivism and class struggle to almost every part of the globe. From Eastern Europe to Africa to Latin America to Asia, hundreds of millions suffered the brutality of Marxist-Leninist dictatorships.
[W]hile the crimes of fascism are rightly remembered by Western academics and journalists, the ghastly crimes of communism remain largely ignored. This is wrong. The lives of those who were murdered by Hitler's thugs are not worth more than those who died at the hands of Stalin. The victims of communism deserve better.
Através deste artigo do Washington Times fiquei a conhecer The Victims of Communism Memorial Foundation.
posted by Miguel Noronha 4:03 da tarde
Exemplar
Recomendo a leitura da ultima coluna (ela vai-se "mudar" para o Times) de Julie Burchill no Guardian.
I don't swallow the modern liberal line that anti-Zionism is entirely different from anti-semitism; the first good, the other bad (...)
If you take into account the theory that Jews are responsible for everything nasty in the history of the world, and also the recent EU survey that found 60% of Europeans believe Israel is the biggest threat to peace in the world today (hmm, I must have missed all those rabbis telling their flocks to go out with bombs strapped to their bodies and blow up the nearest mosque), it's a short jump to reckoning that it was obviously a bloody good thing that the Nazis got rid of six million of the buggers. Perhaps this is why sales of Mein Kampf are so buoyant, from the Middle Eastern bazaars unto the Edgware Road, and why The Protocols of The Elders of Zion could be found for sale at the recent Anti-racism Congress in Durban.
posted by Miguel Noronha 10:42 da manhã
O Futuro a Deus Pertence
Artigo de Nelson Ascher (link não disponível)
Prever o futuro era, outrora, um ofício reservado a certos profissionais. Entre os antigos gregos, romanos e celtas, arúspices examinavam, para tanto, as entranhas de bichos recém-sacrificados, ornitomantes estudavam o vôo e o canto dos pássaros, quiromantes liam as linhas das palmas da mão, oniromantes ou brizomantes interpretavam sonhos, piromantes observavam o movimento das chamas etc. Os mesopotâmios, que preferiam a astrologia, perscrutavam o firmamento para elaborarem seus horóscopos e, há mais de 3.000 anos, antes mesmo de desenvolverem o "I-Ching", os chineses da dinastia Shang deixavam no fogo omoplatas de animais ou cascas de tartaruga até que as rachaduras provocadas nestas pelo calor elucidassem suas dúvidas.
De todos os lugares frequentados pelos que desejavam desvendar o porvir, nenhum se tornou tão célebre quanto o templo de Delfos, na Grécia. Era em seu ádito, um santuário reservado à pitonisa, que esta, sob a influência de vapores subterrâneos, recebia as mensagens transmitidas por Apolo a quem viesse consultá-lo. As revelações do oráculo costumavam ser convenientemente ambíguas. O grande exemplo é o de Creso, rei da Lídia, que, perguntado se deveria invadir ou não a Pérsia, interpretou de forma algo otimista a frase segundo a qual, terminada a guerra, um poderoso reino cairia: foi seu reino o que caiu. Essa lenda inspirou Shakespeare a pôr na boca das bruxas que instigam Macbeth a tomar o poder na Escócia o verso ("When the battle's lost and won") que fala de uma batalha perdida e ganha: perdida por um contendor, ganha pelo outro.
O problema óbvio de qualquer previsão insuficientemente dúbia é que, salvo se disser respeito a um futuro longínquo, ela corre o risco de ser verificada e, em geral, desmentida. Não é por isso, no entanto, que só resta atualmente aos adivinhos de carreira oferecerem seus serviços a cônjuges desamados, doentes desenganados e empresários falidos, pois, afinal, o homem moderno, urbano e pós-graduado continua tão supersticioso quanto o que viveu durante a última glaciação. Acontece que, quando o que está em jogo são questões mais amplas, como as de natureza social, econômica ou política, as ciganas e as cartomantes, vítimas da concorrência desleal, foram substituídas por gente que, conhecendo o futuro como a palma da mão de um maneta, maneja estatísticas e pesquisas variadas como um bebê, uma kalashnikov.
Nunca na história das conflagrações humanas tantos peritos desinformaram tantos leigos com tantas interpretações enviesadas e predições absurdas. Se Stanislaw Ponte-Preta estivesse vivo, ele teria, após 11 de setembro de 2001, de abrir concurso público para contratar uma legião de auxiliares, porque sozinho não conseguiria dar conta do atual "Febeaplá" (Festival de Besteiras que Assola o Planeta). Assim, mal os EUA principiaram sua campanha na Ásia Central, já sobravam entendidos não somente lembrando que a região havia sido o túmulo dos exércitos inglês e soviético, mas acenando com o devastador inverno afegão. (Curiosamente, nenhum deles anteviu o desastroso verão parisiense.) Quanto ao Iraque, comentadores diversos asseguraram que os americanos não desafiariam o veto de países interessados em preservar seus investimentos e antigas amizades. Traídos por Bush, eles garantiram em seguida que os iraquianos repeliriam heroicamente as tropas ianques, Bagdá se converteria numa nova Stalingrado inconquistável e milhões de inocentes morreriam na maior catástrofe humanitária desde o dilúvio bíblico. Seu mantra atual é o de que a coalizão anglo-australo-americana se atolou num Vietnã renovado e este, desmoralizando (juntamente com uma economia falida) os republicanos, levará em breve à Casa Branca um democrata que terá o bom senso de submeter sua nação aos ditames da burocracia européia e onusiana. Veremos.
Mas talvez não seja apenas um caso de pessoas projetando, nos dias, meses e anos vindouros, sua incompreensão do presente e seu desconhecimento do passado. Se há um vício que sobretudo os especialistas em política internacional têm se mostrado incapazes de superar, este é o que os ingleses chamam de "wishful thinking", Antônio Houaiss traduz poeticamente por "pensamento veleitário" e, trocando em miúdos, consiste em identificar os próprios desejos com a realidade ou, como diria Luigi Pirandello, "assim é, se lhe parece". Apesar de o paradigma mesmo com que se interpretavam as relações internacionais ter mudado, aqueles que investiram tempo de sobra e, quem sabe, alguns neurônios em concepções agora obsoletas não estão, compreensivelmente, dispostos a recomeçar do zero.
Nada colabora mais com tal resistência paralisadora do que a apatia de um público que, não obstante dispor da internet e ter acesso à blogosfera, prefere poupar dissabores aos especialistas, raramente lhes colocando perguntas embaraçosas como: "Por que nenhuma de suas recentes previsões se confirmou?" Em épocas mais sérias os falsos profetas eram apedrejados. Os contemporâneos, contudo, passam por bravos dissidentes. E, enquanto eles se ocupam do porvir, quem busca entender o presente desempenha um papel de Cassandra, a mais bela filha de Príamo, rei de Tróia, que oferecera seus favores a Apolo em troca do dom da profecia. Como o deus, pagando adiantado, não recebeu a mercadoria prometida, ele puniu a moça condenando-a a profetizar sem ser ouvida. O que mudou desde então? Hoje em dia quase ninguém quer acreditar não em previsões, mas nos fatos.
posted by Miguel Noronha 8:29 da manhã
segunda-feira, dezembro 01, 2003
Semi-Privado
Mensagem telegráfica aos restantes conjurados:
Razões de cansaço extremo impedem-me de estar presente. Concordo com as propostas apresentadas. Aguardo pelas delibrações. Tentei contactar o local para anular a minha reserva mas mão consegui.
As minhas mais sinceras desculpas. Já encomendei as Obras Completas do Professor. A penitência irá redimir a minha falta.
posted by Miguel Noronha 6:15 da tarde